01/01/2003 - 10:00
Ao longo de sua brilhante carreira como advogado criminal, Márcio Thomaz Bastos, 67 anos, venceu 800 vezes nos tribunais do júri com os mais diversos resultados: sete a zero, quatro a três, cinco a dois, seis a um. A partir do dia 1º de janeiro, como ministro da Justiça, Márcio poderá vencer de goleada por 170 milhões a zero se conseguir realizar aquele que é um de seus principais sonhos: uma Justiça barata e acessível a todo e qualquer cidadão. Detalhe: os 170 milhões em questão são a população do Brasil. E atualmente apenas uma ínfima parcela possui condições financeiras de ter acesso à Justiça no País. Marcio e Lula se aproximaram no final dos anos 70 quando o agora presidente eleito era líder sindical e foi preso pela polícia política da ditadura. Em seu eterno escritório na região central de São Paulo já passaram desde políticos como ACM até anônimos cidadãos, que foram acolhidos e defendidos gratuitamente. Foi o primeiro criminalista a presidir nacionalmente a Ordem dos Advogados do Brasil, na década de 80. Apesar da experiência que tem, o doutor Márcio sente-se nervoso antes de cada novo júri como se fosse o primeiro de sua vida. Vai lá, começa a atuar e vence. Deus queira que ele se sinta igualmente nervoso agora. Vencerá por 170 milhões de votos a zero.
39 a 12 para Meirelles
Lula e o PT venceram a primeira prova de fogo no Senado na terça-feira 17. O banqueiro Henrique Meirelles, indicado para a presidência do Banco Central, passou incólume em duas votações sucessivas: na Comissão de Assuntos Econômicos e no plenário da casa (39 votos a favor, 12 contra). Mais: na primeira crise interna desde a eleição de Lula, num delicado acordo de compromisso, o presidente do PT, José Genoino, preservou a voz contrária da senadora alagoana Heloísa Helena, que não quer Meirelles no BC, sem comprometer o comando do presidente eleito. Na reunião prévia da bancada, a senadora chorou e manteve a sua restrição a Meirelles, “representante do sistema financeiro e capitalista que não aprovo nem a pau-de-arara”. Como o PT fechou questão para votar em Meirelles, a saída de Helena foi à francesa: ela não compareceu à sabatina na comissão e se ausentou do plenário. A senadora livrou a cara e o PT salvou a unidade. Na comissão, Meirelles anunciou que os diretores do BC terão mandato fixo, como ISTOÉ antecipou na semana passada.
Caneta Aposentada
A República perdeu um de seus charmes: a aura que sempre cercou as famosas canetas dos presidentes. Desde a terça-feira 17 está valendo oficialmente a assinatura eletrônica através de um cartão magnético com senha numérica – com os textos dos decretos no computador, é só o presidente passar o cartão, digitar a sua senha e mandar imprimir. A mais pomposa caneta foi a que pertenceu a Getúlio Vargas e com a qual ele assinou a sua Carta Testamento. A caneta ficou durante muito tempo em posse de Tancredo Neves (foto), embora sempre tenha pairado dúvidas se de fato ela pertencera a Getúlio ou era apenas um símbolo mítico criado para uso político. Em 1994, na assinatura do termo de posse, FHC se valeu dessa caneta. E deu a devida dimensão ao ato perguntando a seus ministros: “Vocês sabem com que caneta estamos assinando?”. No dia 1º de janeiro, quando for empossado, tanto Lula quanto seus ministros ainda usarão o método tradicional. Daí para a frente ficará valendo a assinatura eletrônica. Num país recordista de clonagem de cartões e no qual já clonaram celulares até de ministros, não se estranhará se a caneta for em breve reabilitada.
Bush pede ajuda a Lula
A presença em Caracas do assessor de Relações Internacionais do PT, Marco Aurélio Garcia (à dir.), não foi circunstancial nem se deveu somente à amizade que une Lula ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. ISTOÉ apurou com exclusividade que o presidente americano George W. Bush pediu a Lula, em sua recente visita a Washington, que intermediasse a crise venezuelana, uma vez que os EUA consideram “muito complicada” a situação política naquele país — e não querem intervir para evitar situações comprometedoras. Uma fonte de alto escalão do PT revelou a ISTOÉ que o establishment americano considera que qualquer tentativa de derrubada de Chávez resultaria numa guerra civil. Segundo o Departamento de Estado, Chávez conta com fortíssimo apoio das classes sociais menos favorecidas da Venezuela. Elas o apoiariam num eventual golpe, assim como iriam maciçamente às urnas para reelegê-lo no caso de novas eleições.