01/01/2003 - 10:00
Por mais que as previsões macroeconômicas de praxe estejam se apresentando e sejam usadas para balizar os orçamentos das empresas em 2003, a verdade é que as perspectivas para o setor produtivo no próximo ano ainda são incertas. O setor mostra-se bastante sensível às reações da demanda, assim como ao cenário econômico que se entrelaça com a fase de transição política por que passamos, e ainda não plenamente definida. Pesquisa de opinião recente, realizada pela Fiesp, mostra que o empresariado paulista está otimista em relação ao novo governo e às relações entre o governo e a indústria. Apesar disso, a indústria vem sendo penalizada com o impacto da forte desvalorização do real, do aumento da taxa de juros, e revela
seu temor sobre a possibilidade de descontrole da inflação.
A consequente pressão de custos repercute, principalmente,
na redução da margem de lucro das empresas. As indústrias que
se mostram mais vulneráveis são as que direcionam seus produtos
ao mercado interno e, no que tange ao porte, as micro e pequenas empresas. Do lado da oferta, o aumento do investimento nos
setores exportadores que representam maior pressão de custo
ao longo das cadeias produtivas é essencial para que o crescimento
da produção ocorra em 2003, rompendo gargalos iminentes.
O ano 2002 deve registrar uma queda de 1% na produção física
de São Paulo, em relação a 2001, segundo dados do Indicador
de Nível de Atividade (INA), calculado pela Fiesp. Esse desempenho
é sofrível, considerando a já reduzida base de comparação de 2001. Apesar disso, nos últimos dois meses para os quais dispomos de dados (setembro e outubro), o INA apresentou crescimento consecutivo.
Os números recém-divulgados para o mesmo período pela CNI e pelo
IBGE confirmam o movimento de recuperação do setor industrial.
Resta saber se haverá sustentabilidade desse novo sopro em 2003.
Por ora, o único fator que consideramos um componente permanente
por trás do melhor desempenho dos últimos meses são as vendas ao setor externo, principalmente por parte das indústrias de alimentos, metalurgia e material de transportes. O aumento das exportações
deve persistir, considerados os acordos bilaterais firmados e a
taxa de câmbio, mesmo esta caindo ao patamar de R$ 3,30 por
dólar, conforme tomada de opinião junto aos empresários.
O componente transitório do recente “aquecimento” da demanda
interna, por sua vez, tem facetas múltiplas. Uma delas é a queda do
IPI incidente sobre os carros médios, que impulsionou as vendas do
setor automobilístico. Outra é o aumento temporário de renda, resultante dos expurgos do FGTS e do 13º salário, além das expectativas do consumidor, que, numa hipótese mais otimista, reage positivamente
em relação ao novo governo, aumentando seu consumo momentaneamente. Ou, numa hipótese mais pessimista, essa
faceta transitória estaria traduzida pela antecipação de compra, considerando a preocupação com a possível volta da inflação.
A sustentabilidade das vendas internas em 2003 depende do
aumento do emprego e dos salários reais. A volta do emprego
tem relação direta com a retomada do investimento, que, por
sua vez, está atrelado a um cenário econômico estável. Barulho
e desconfiança são inimigos declarados do investimento. Credibilidade
é o nome do jogo: o setor produtivo confia que o governo
saberá garantir as condições que permitam essa possibilidade,
mantendo a estabilidade da moeda e realizando as reformas
tributária, fiscal e da Previdência Social, já tão adiadas.