Em 2003, a democracia vai dominar também na noite. Depois de anos de som eletrônico, raves e pistas lotadas, quem gosta de um papo tranquilo com som ao fundo também terá vez. Além dos lounges (misto de pista de dança com música suave e sofás aconchegantes), começam a fazer sucesso lugares com clima familiar, onde se pode comer, conversar e dançar como se estivesse em casa ou numa festa particular. No Rio de Janeiro, os melhores tradutores do estilo são a veterana Casa-Rosa e o recém-reformulado Sítio Lounge. O local passou de simples restaurante a uma combinação de casa noturna e bar com música ao vivo com ambiente caseiro. Uma iluminação de velas coloridas presas sobre garrafas de vinho e confortáveis sofás dispostos ao redor das mesas atraem um público jovem exigente. O restaurante funciona diariamente, mas pega fogo às quintas-feiras, quando recebe o DJ Tony Lounger, que, acompanhado por uma banda de accid jazz, percorre estilos como a bossa nova e o jazz. “A música eletrônica está deixando de ser agressiva”, diz o DJ.

Em São Paulo, bares como extensão da casa viraram regra há pelo menos um ano, quando foi inaugurado o Café Concerto Uranus. O bar localizado no centro velho de São Paulo é uma mistura de cabaré com sala de estar. Tem palco para apresentações e sofás para estender o papo madrugada adentro.

E, assim como no Rio, a novidade não se resume ao espaço físico. O ouvido do público também é presenteado. No lugar do “bate estaca”, a música da hora é a boa mistura da bossa nova, da MPB, e do jazz com remixes de DJs. O proprietário do Uranus, Carlito Cabrera, explica a preferência: “Acabou o som bombado. Assumimos o controle do volume porque as pessoas querem conversar e sentir-se em casa”, afirma. A casa, que coloca um piano à disposição do público para eventuais “canjas”, é uma combinação perfeita de pista de dança intimista, lounge confortável e música agradável.

Apostando no sucesso da tendência das casas com “cara de família” – moda há dois anos na Europa –, o empresário Marcos Campos, proprietário dos clubs paulistas Sirena e Disco, resolveu criar a Casa Pizza. Em sociedade com o apresentador Marcos Mion e o empresário Paulo Zegaib, Campos transformou um edifício residencial dos anos 50, de três andares, numa badalada pizzaria. Na entrada do que era um apartamento, um ambiente decorado com jogo de estofados e uma sala de jantar típica de qualquer casa de família ditam o clima da recepção. O ambiente contrasta com sofás de veludo azul e proporciona conforto no canto da biblioteca. Mesas baixas se espalham entre os tatames e invadem o que equivale ao quarto de um menino. Em outro cômodo é fácil constatar os rastros de uma garota. Tudo para dar ao cliente a sensação de estar em casa. Tanto que, entre um gole e outro, os boêmios podem consultar o dicionário Aurélio. Só falta a bronca do pai.