08/10/2003 - 10:00
A felicidade pode se travestir de muitos significados. Mas para o secretário da Educação do Estado de São Paulo, Gabriel Chalita, 34 anos, ser feliz é uma “condenação” da qual nenhuma pessoa deve ser “absolvida”, sob pena de não entender o que faz no mundo. A sentença está no livro Os dez mandamentos da ética (Ed. Nova Fronteira), lançado em São Paulo na terça-feira 30. Doutor em direito e em comunicação, mestre em ciências sociais, bacharel em filosofia e autor de outros 34 livros, como Educação, a solução está no afeto (Ed. Gente), desta vez Chalita foi buscar na Grécia antiga, berço dos grandes filósofos, as bases para a obra, que pretende trazer a reflexão para as atitudes cotidianas. Num mundo, onde a preocupação com o ter ou o parecer é muito maior do que a
com o ser, a empreitada é até mesmo ousada. E mais significativa
ainda no meio político, no qual os preceitos éticos não raro são utilizados como bandeiras mas funcionam mais como promessas de campanha. Chalita gosta de se autodefinir como um educador. E é usando sua
alma de professor que ele divide o assunto didaticamente em dez mandamentos: fazer o bem, agir com moderação, saber escolher,
praticar as virtudes, viver a justiça, valer-se da razão, valer-se do coração, ser amigo, cultivar o amor e, finalmente, ser feliz. E pontua cada um deles com exemplos e relatos míticos ou literários, tendo
como guia a Ética a Nicômaco, o completo tratado que o filósofo
grego Aristóteles dedicou ao próprio filho.
Mas o que tem a ver felicidade com ética? Defende o autor que a felicidade é o bem supremo a que todos procuram. E a finalidade prática da ética, como código de conduta social, é o próprio bem, individual e coletivo. Daí a relação incontestável. Receita para a felicidade não existe, mas, como propõe o filósofo grego, três realizações podem garantir este estado ideal. Primeiro, possuir condições materiais suficientes para uma vida sem carências. Segundo, ter prazer no sentido mais amplo da palavra: viver momentos agradáveis, obter sucesso no trabalho, amar e ser amado e tantas outras boas conquistas que o coração humano possa sonhar. Terceiro, adquirir excelência intelectual e moral – a primeira relaciona-se com a razão e é adquirida pela instrução; a outra diz respeito a virtudes como coragem e honestidade e é fruto de hábitos adquiridos na sociedade. Pelo exemplo de familiares, amigos, mestres, políticos e líderes religiosos.
Pois é, para Chalita e seu mestre grego, é possível aprender a ser feliz. E a política tem uma grande contribuição neste afã. É que, de acordo com a concepção aristotélica, a política pressupõe que a felicidade pode ser conquistada com a prática repetida de ações honradas, de modo que a virtude se torne um hábito de toda uma comunidade. É bom lembrar que virtude, neste caso, significa ação – com equilíbrio, bom senso, sabedoria, justiça e simplicidade. Chalita mostra que a proposta não é ingênua e digna apenas de se manter nas páginas de erudição clássica. E avisa: se a felicidade é moldada por grandes ideais, é fundamental não apenas acreditar neles, mas ter a coragem de redesenhar a realidade.