08/10/2003 - 10:00
Brasil é um país notável. Sob todos os aspectos. Um trabalho essencial do IBGE – Estatísticas do século XX – mostra que o País teve uma taxa média de crescimento de 4,49% nos 100 anos estudados, só ficando atrás de Taiwan (5%). Espetacular. A população deixou o campo, a indústria se modernizou, a agricultura bate recordes de produtividade. Até na área social há avanços consideráveis. Mas, quando a discussão é distribuição da riqueza ou a inclusão da legião de miseráveis no mercado de consumo, dá vontade de chorar. Ao lado de um país pujante, com padrão superior a muitos do Primeiro Mundo, convive um imensa população de desvalidos. No quesito concentração de renda, também estamos sempre surpreendendo. Se um dia o economista Edmar Bacha criou a síntese Belíndia para definir o Brasil como uma junção de Bélgica com Índia, a situação está pior. Hoje seríamos uma Itangola, mistura de Itália com Angola.
Os dados do IBGE estão na reportagem de Aziz Filho, a partir da pág. 46, e mostram que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tinha razão quando dizia que o Brasil não é um país pobre, mas sim injusto. Pena que sua política econômica tenha ajudado pouco a diminuir o fosso. Em 1960, a renda dos 10% mais ricos era 34 vezes maior do que a dos 10% mais pobres. No fim do século passado, era 47 vezes maior.
Um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) também divulgado esta semana comprova que a distribuição de renda piorou em dois terços das cidades brasileiras, entre 1991 e 2000. A situação melhorou em apenas 29,6% dos municípios. É muito pouco. A colossal concentração de riqueza impediu que o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal tivesse avanços significativos. Nos grandes centros, a qualidade de vida piorou.
As estatísticas são importantes, principalmente para o governo perceber que ainda há muito a fazer. Com o final da gestação dos nove primeiros meses do presidente Lula, a lição dos números parece sensibilizar um governo que foi eleito vendendo esperança de um mundo melhor. Ao participar do lançamento das Estatísticas na sede do IBGE, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, tocou na ferida: “O País não conseguirá alcançar as nações desenvolvidas se não resolver a distribuição de renda.” O diagnóstico é correto, mas agora é preciso mostrar que o medicamento receitado pode salvar o paciente.