Com os índices de desemprego cada vez mais altos e a média salarial no Brasil cada vez mais baixa, trabalhar no governo do Amazonas – mesmo que seja de motorista – pode ser mais que um grande negócio. No dia 2 de junho, o Diário Oficial do Estado publicou as nomeações dos motoristas do governador Eduardo Braga (PPS) e de seu vice, Omar Aziz (PFL), para ocupar cargos de confiança no governo, com salários de R$ 5mil. Só que Ubiracy Bezerra de Araújo e Antônio Carlos Rodrigues Fernandes já eram conselheiros da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama) e desde então acumulam os dois cargos. Somando os salários, cada um recebe R$ 16.400 por mês – cerca de 70 salários mínimos. As informações foram publicadas na Folha de S.Paulo. O governador Eduardo Braga, que assinou a nomeação de Fernandes para o cargo de secretário-executivo de seu vice, mandou investigar a folha de pagamento da companhia.

A Cosama é uma estatal que atua em 15 municípios do Estado e tem 19 conselheiros. Em abril, o estatuto da empresa foi mudado e o número de cadeiras no conselho subiu para 25. A folha de pagamento do órgão chega a R$ 493.500 – 43% desse total são só para pagar os 19 conselheiros. Esses cargos, segundo o vice-governador – que assinou a nomeação de Araújo para a subchefia do gabinete pessoal de Eduardo Braga –, são uma forma que o governo encontrou para aumentar os rendimentos de funcionários de alta qualificação. Só que entre os conselheiros da Cosama há apenas servidores do segundo escalão. Os secretários estaduais, teoricamente os mais qualificados do Executivo, recebem cerca de R$ 6 mil de salário e são também conselheiros da Prodam (Processamento de Dados do Amazonas). Seus vencimentos chegam a R$ 15 mil.

Como se não bastasse, o motorista Fernandes, que trabalha com Aziz e é conselheiro da Cosama, foi acusado de ter agredido fisicamente o radialista e ex-deputado Eliúde Bacelar. A acusação, já investigada pela Polícia Federal, foi uma represália ao fato de Bacelar ter dito que o vice-governador estava usando um veículo roubado. Fernandes negou a suspeita de roubo e divulgou na imprensa local a nota de compra do automóvel em seu nome.