Como o próprio título dubiamente indica, o acadêmico, autor e compositor paulista, imodestamente, resolveu fazer um disco sem concessões à massa, porém sem nenhum ranço destinado a ouvidos exclusivos. Wisnik constrói pontes criativas entre o erudito e o popular, brinca com os ritmos brasileiros e ergue melodias pontuadas por versos delicados, surrealistas, românticos, divididos em parcerias nada desprezíveis, entre elas Carlos Drummond de Andrade e Jorge Mautner. Sem falar no time de vozes para incentivar reverências. Ná Ozzetti empresta seu timbre de rouxinol a Primavera e Sem receita; a novata e bem-vinda Luciana Alves imprime maciez a DNA; Caetano Veloso contribui com a fantástica desconstrução da clássica Assum preto, de Luiz Gonzaga, que resulta em Assum branco; Elza Soares traz sua inconfundível jinga a Presente; e Jussara Silveira cutuca a vontade de dançar em Baião de quatro toques, cuja letra cruza Beethoven com o prazer de quem alegremente compõe.