Em 12 anos de carreira, o cantor e compositor inglês Seal, uma das grandes vozes surgidas nos anos 1990, lançou apenas três trabalhos. Peculiaridade que só faz saudar a chegada de Seal IV, mesmo que em alguns momentos o novo álbum se mostre aquém das maravilhas que o filho de brasileiro com uma nigeriana já demonstrou ser capaz de criar. No momento em que grande parte dos artistas negros estrangeiros se volta para o rhythm’ blues açucarado ou para a falação indignada do rap, ouvir o canto cheio de emoção de Sealhenry Olumide Samuel, 40 anos, é resgatar a tradição da melhor soul music, aquela feita no passado pelas fábricas de hits da Motown e da Stax. Seal tem lá seus momentos de Lionel Ritchie, mas quando se revela um seguidor aplicado de feras como Marvin Gaye e Al Green faz esquecer qualquer recaída melosa.

É o que acontece logo na abertura do disco, com a extraordinária Get it together, faixa que transporta o ouvinte para alguma pista de dança perdida nos idos dos anos 1970. Aparecem os teclados melodiosos, a parede de metais sob cortina de violinos, as guitarras funk e os mesmos backing vocals em camadas. Para não soar passadista, contudo, em determinado momento Seal pára tudo e entra com uma emissão de voz grave sobre o violão limpo. “Você deve ter no mínimo um hino e este é o meu”, afirmou a respeito da canção.

Na sequência, o cantor revisita o balanço das antigas Crazy e Killer em My vision, cheia de reminiscências de teclados e vocais da acid house; arranha o vozeirão na funky Let me roll; e reedita o romantismo de A kiss from a rose nas baladas Touch e Loneliest star. Heavenly … (good feeling) vem cheia de efeitos eletrônicos, mas ainda aqui a voz quente de Seal reina sobre a tecnologia. Saídos de sua garganta, versos ingênuos como “We got to keep this world together” (Temos que manter este mundo unido) deixam de ser uma tolice para virar refrão instantâneo.