O senador Paulo Octávio (PFL-DF), 55 anos, é tido como o homem mais rico da capital federal e um dos maiores construtores do País. Dono de 16 empresas, seu patrimônio soma R$ 500 milhões. Ex-primeiro-amigo de Fernando Collor e companheiro de cooper do então presidente, Paulo Octávio pagou um alto preço ao ficar marcado como um dos principais integrantes da tropa de choque collorida. Hoje, já com uma imagem própria, se diz cansado de ter de justificar a antiga amizade. Mineiro de Lavras (MG), chegou a Brasília aos 11 anos, acompanhado do pai, um dentista admirador incondicional de Juscelino Kubitschek. Em 1990 casou-se com Anna Christina, neta de JK, e seus dois filhos, Felipe e André, são hoje os únicos herdeiros do idealizador de Brasília. Paulo Octávio é pré-candidato ao governo de Brasília no próximo ano e divide a preferência nas pesquisas com o ex-senador e hoje deputado José Roberto Arruda, também do PFL. Por enquanto, disputa com Arruda e com a vice-governadora Maria Abadia (PSDB) – além de outros dois políticos do PMDB – o apoio do governador Joaquim Roriz à sua candidatura. Mas não esconde de ninguém que, para o futuro, planeja vôos ainda mais altos. Paulo Octávio reclama a participação dos empresários na vida política. “Tenho ido em busca da classe empresarial para conseguir filiação. Os empresários têm medo. Acham que serão perseguidos. Mas precisam participar mais e dar sua contribuição.” Para ele, falta “um empurrão dos partidos”.

ISTOÉ – Lula ainda é um forte candidato à reeleição?
Paulo Octávio

Este governo chegará combalido à reeleição, porque não tem muito o que apresentar. Começou sem propostas claras e definidas, sem um programa de governo. Baseou-se muito no Fome Zero, no qual a população não viu resultado. A partir de agora, tem início o período da reeleição, que é uma coisa muito ruim para os administradores. Passa-se a pensar apenas em acordos e alianças. E em 2006 o País estará de novo paralisado. Por isso, defendo a coincidência de mandatos. O custo das eleições é muito caro. Como deputado, em 1999, eu apresentei proposta para o fim da reeleição.

ISTOÉ – O sr. acha que o governo poderá mexer na política econômica?
Paulo Octávio

O governo optou pela linha do Palocci. Tem de ir até o final.
Os números da economia são inegavelmente positivos. O dólar está baixo. O
presidente não vai agora, no final de governo, dar uma guinada. Quanto aos
juros, pela insistência do José Alencar, o presidente vai ter que ceder. Será a
grande contribuição do vice-presidente neste governo. Os juros são um inibidor
do crescimento econômico e do empreendedorismo. Hoje, o medo da tributação
faz com que muitos jovens que poderiam abrir novas empresas prefiram se
tornar assalariados. Por isso, defendo a proposta do imposto único do
ex-deputado Marcos Cintra.

ISTOÉ – O PFL poderá ter candidatura própria em 2006?
Paulo Octávio

Por enquanto, defendo candidatura própria. Temos nomes notáveis, como Cesar Maia, Marco Maciel, Jorge Bornhausen e Agripino Maia.

ISTOÉ – O namoro do PFL com o PSDB está abalado?
Paulo Octávio

Não. Mas tudo depende de proposta de emenda à Constituição (PEC) que vai ser votada e da verticalização. A costura política dependerá da evolução dos fatos políticos no Congresso. Pode acontecer de vários partidos lançarem candidatos e depois buscarem uma união no segundo turno. Se PMDB, PFL e PSDB estiverem juntos numa candidatura única à Presidência, será uma coligação imbatível. Mas é difícil por interesses diferenciados.

ISTOÉ – Como terminarão as três CPIs no Congresso?
Paulo Octávio

Foi feito um bom trabalho. Dentro do que foi possível apurar, elas mostraram ao País que houve uma aproximação do PT, o partido do governo, com o marketing oficial, arrecadando recursos para se conseguir uma grande influência no Congresso. A origem de tudo foi justamente o processo da reeleição. Tudo começou quando o governo estava bem e quis uma aliança com o PP, o PL e o PTB. Se ela fosse consolidada, tendo ainda o PMDB, iria sobrar quem?

ISTOÉ – Mas o Congresso não sai desgastado dessa crise?
Paulo Octávio

Ele reflete a sociedade brasileira. E estamos numa democracia nova. Mas entendo que o brasileiro será cada vez mais exigente ao votar. E, quanto mais educação tivermos, melhor será a votação.

ISTOÉ – O sr. viveu de perto o processo de impeachment de Collor e agora também essa onda de denúncias contra o governo Lula. O Brasil não aprendeu com o início dos anos 90?
Paulo Octávio

O Collor rompeu muitas barreiras. Desagradou a muitos setores da sociedade e, certamente, pagou um preço por isso. O Lula assume num momento em que o Brasil amadureceu bastante. Hoje, o quadro é outro. O País começa a entender que não existe salvador da pátria, que não há um líder que chega lá e conserta rapidamente a nação. Esse líder tem de estar muito bem estruturado. Precisa de programas de governo e de partidos que o apóiem fortemente. A experiência Lula mostra que a mudança no País não pode estar alicerçada a um único nome. A esperança do brasileiro no Lula foi muito grande
e houve uma quebra de expectativa.

ISTOÉ – Mesmo com uma avalanche de denúncias, não houve pedido de impeachment do Lula. Isso mostra uma oposição diferente ou um amadurecimento da classe política?
Paulo Octávio

A oposição feita pelo PFL e pelo PSDB é uma oposição muito elegante. É baseada na troca de idéias e propostas. Vários projetos do governo foram aprovados. A discussão tem levado em conta a preocupação com o País. Não é uma oposição raivosa, para marcar posição. É uma oposição de diálogo. A formação dos parlamentares da oposição também é diferente da dos petistas, cuja maioria vem das brigas acirradas nos sindicatos.

ISTOÉ – Mas nas CPIs a oposição não tem sido elegante.
Paulo Octávio

Dentro de uma CPI televisionada para o Brasil inteiro, há aqueles que querem se
destacar mais. Alguns líderes da oposição surgiram
em nível nacional, nem sempre com elegância. Mas
não é como o PT fazia. O PT tinha 70 deputados e os
70 batiam. Nós mostramos as mazelas do governo,
mas sem aquela orientação militar do PT.

ISTOÉ – Depois do mensalão, o PT ainda terá força?
Paulo Octávio

Logicamente terá de fazer uma
reflexão e uma reformulação de seus projetos para
o futuro. Durante muitos anos, foi um partido acima
do bem e do mal. Os petistas se achavam melhor do
que todo mundo. Nada melhor do que passar pelo
poder e tomar essa vacina.

ISTOÉ – A campanha de 2006 será diferente?
Paulo Octávio

Sem dúvida. Será uma campanha profundamente fiscalizada. Pela imprensa, pelos tribunais eleitorais, pelo Ministério Público, pelos adversários. Qualquer panfleto mal explicado vai impugnar candidaturas. Será uma campanha baseada em idéias, programas, governos, projetos. Será mais inteligente. O marketing e os showmícios vão perder espaço.

ISTOÉ – Será feita realmente sem caixa 2?
Paulo Octávio

Quem fizer correrá um risco enorme. A sociedade estará de olho. Basta um funcionário de uma gráfica dizer que foi feito panfleto sem nota.

ISTOÉ – Qual sua posição sobre o financiamento público de campanha?
Paulo Octávio

Sou contra. Nesse momento difícil que o País vive, não dá para
dizer que dinheiro do contribuinte vai ser usado em campanha política. Isso não
será assimilado. Até porque os candidatos usarão o dinheiro público e também
o privado. Não tem como inibir.

ISTOÉ – O sr. tem inimigos na política?
Paulo Octávio

Já tive. Já sofri bastante na vida pública, mas tirei os ressentimentos do coração.

ISTOÉ – Qual a maior prioridade hoje do País?
Paulo Octávio

É a educação. Todos os países que se desenvolveram muito pautaram seus investimentos em educação. Se eu for governador de Brasília,
quero dar a oportunidade de cada família ter um computador conectado à internet. Se não fizermos isso, haverá um desnível muito grande no futuro. O abismo social está se aprofundando. O jovem de classe média vai para casa e passa quatro horas estudando no computador. O jovem sem recursos não tem essa possibilidade. Em Brasília, na empresa que fundei, desenvolvemos um projeto de alfabetização
de trabalhadores em canteiros de obras. Começou em 1989, com cinco mil empregados. Hoje, temos salas de aulas nos canteiros e todos são alfabetizados.

ISTOÉ – Para o empresário é um investimento…
Paulo Octávio

O número de acidentes de trabalho diminuiu sensivelmente. Em 1998, comemoramos o milésimo operário alfabetizado num canteiro de obras. E os sindicatos da construção civil pelo País adotaram o projeto. Temos hoje trabalhadores prestando vestibular. E dois engenheiros civis que foram formados no canteiro de obras. Também temos bibliotecas nos canteiros e liberamos o empregado uma hora antes para o estudo.

ISTOÉ – O sr. defende mais investimentos no turismo e até a candidatura de uma Copa do Mundo no Brasil…
Paulo Octávio

Fui muito combatido quando tentei fazer as Olimpíadas de 2000 em Brasília. Trabalhei dois anos arduamente no projeto. Mas os pessimistas sempre dizem que o Brasil não tem condição, que não dá para programar nada aqui porque os jogos não podem atrasar um minuto, por exemplo, já que causariam prejuízos de milhões para as emissoras de tevê. Mas o Brasil é o país do futebol. Por que o Brasil não se candidata para sediar uma Copa do Mundo aqui?

ISTOÉ – O sr. também é contra a exigência de vistos de americanos…
Paulo Octávio

São 800 mil americanos por ano que deixam de visitar o Brasil por causa do visto. Tem de acabar esse acordo de reciprocidade. Se o americano tem os seus problemas constantes de terrorismo, guerra e até de imigração ilegal, o Brasil não tem. Então, não tem sentido pedir visto ao americano. Recentemente recebi carta de um grande empresário americano que ia fazer um seminário em São Paulo, com 300 empresários americanos, mas soube da exigência do visto e decidiu fazer na Argentina.

ISTOÉ – Por que o empresário entra na política?
Paulo Octávio

Sou presidente do PFL em Brasília e tenho ido em busca da classe empresarial para conseguir filiação. Os empresários fugiram da política nos últimos anos. Eles têm medo. Acham que serão perseguidos. Mas, como são muito bons para reclamar, precisam participar mais e dar sua contribuição. A questão é que na política o empresário tem de ter uma vida muito transparente. É uma pena que pessoas como o Antônio Ermírio abandonaram a atuação. Veja o exemplo do Tasso Jereissati: ele consertou o Ceará. O Blairo Maggi também faz um bom governo em Mato Grosso. O empresário tem uma visão diferenciada. O maior empreendedor do Brasil foi Juscelino Kubitschek, porque era mais administrador do que político. Tinha o sangue do empreendedor. Hoje, falta coragem aos empresários, mas também um empurrão dos partidos.