01/10/2003 - 10:00
Alguém já pensou como é fantástico abrir uma porta sem dificuldade? Ou dobrar os dedos da mão direitinho? Esses simples gestos podem ser difíceis para quem sofre de artrite reumatóide, doença que deforma as articulações e fragiliza os ossos. No Brasil, 1% da população tem a enfermidade, muitas vezes confundida com
um problema da idade avançada. Mas sua manifestação independe do estágio da vida.
Em geral, ela surge entre 35 e 40 anos, atingindo mais as mulheres.
Os cientistas ainda não sabem o que a provoca. Felizmente, porém, estão conseguindo esmiuçar seu mecanismo de ação. É isso que tem permitido criar drogas que ajudam a controlar o mal. O tratamento alivia sintomas e combate a inflamação, um processo crônico, retardando o avanço da enfermidade. Quando ela se instala, o sistema imunológico passa a atacar o tecido que reveste e protege as articulações, a sinóvia. A pessoa começa a sentir dores, principalmente nos dedos das mãos e dos pés e nos pulsos. E surgem inchaços nas juntas, que ficam avermelhadas. Com o tempo, a cartilagem, as articulações e até os ossos são destruídos. Em grau avançado, surgem deformidades graves, incapacidade física e morte precoce.
Na guerra bioquímica do corpo, há um agente que exerce papel importante. Trata-se de uma proteína que regula as respostas inflamatórias chamada TNF. No caso da doença, ela é superestimulada. Por isso, é sobre o composto que atuam dois remédios de nova geração aprovados este ano para uso no Brasil, o etanercepte e o adalimumab. Antes deles, havia sido liberada no País outra droga de ponta que mira o TNF, o infliximab. Eles barram a ação da substância e são indicados aos que não respondem às drogas convencionais. Pesquisas mostraram que esses remédios interromperam a evolução da artrite. É um feito e tanto. “Agora temos opções para prevenir a progressão da doença”, disse Charles Birbara, do Colégio Americano de Reumatologia.
Para a reumatologista Ieda Laurindo, do Hospital das Clínicas de São Paulo, outro avanço é a compreensão de que quanto mais cedo a doença for tratada, melhor. O problema é que muitos pacientes levam anos para obter o diagnóstico correto. “Queremos descobrir quanto tempo demora para a pessoa chegar ao diagnóstico”, conta. Na investigação, devem ser feitos exames de raio X e de sangue, para apontar a presença de um anticorpo, o fator reumatóide. Mas há
casos em que não se notam alterações no marcador. Nesse campo,
há também uma boa notícia. O reumatologista e imunologista Morton Scheinberg, do Hospital Albert Einstein, é co-autor de um trabalho publicado na revista americana Annals of Internal Medicine. No artigo,
ele afirma que detectar outro anticorpo, o anti-CCP, é importante para
o diagnóstico precoce. “O fator reumatóide pega cerca de metade dos doentes. Já o anti-CCP dá 90% de certeza”, diz. O marcador pode indicar se a doença é do tipo mais grave. “Descobrindo se é brava, entramos mais firmes contra ela”, explica.