Estimular a formação de jovens voluntários e dar visibilidade às suas ações solidárias. Esse é o maior objetivo do Faça Parte – Instituto Brasil Voluntário, que está lançando o Selo Escola Solidária 2003. A iniciativa faz parte do Projeto Jovem Voluntário – Escola Solidária. De acordo com o manual distribuído em agosto para 100 mil escolas de ensino básico de todo o Brasil, as unidades públicas ou privadas interessadas
em obter o selo devem avaliar suas atividades – não apenas sociais,
mas também pedagógicas – por meio de um questionário e descrever
uma experiência solidária significativa promovida pela escola. As que alcançarem 50% de pontos na avaliação podem comemorar a conquista do selo, que será entregue em 5 de dezembro. As inscrições devem ser feitas pela internet ou pelo correio. “Já temos quase dois mil cadastros. Faremos um mapeamento das escolas solidárias do País e despertaremos as que hoje não se encaixam no perfil. Queremos que o selo se transforme em objeto de desejo”, vibra a psicóloga Milú Villela,
presidente do instituto.

O reconhecimento é realmente um grande incentivo. Foi o que observou Arlete Pinheiro de Andrade, diretora do Centro Interescolar Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, de São Caetano do Sul, em São Paulo. Há oito anos, a escola mobiliza seus alunos em vários projetos. “A admiração das pessoas dá motivação. Hoje, a cada dia eles aparecem com novas idéias”, diz ela. Entre os mais elogiados, está o Projeto + Vida, no qual 35 estudantes do ensino médio trabalham como monitores no parque ecológico da cidade. Com teatro, música, jogo e reciclagem de materiais, eles ensinam a importância da preservação do meio ambiente. “E isso sem gastar um tostão, só com boa vontade e parceria com o parque”, afirma Silvana de Santis, coordenadora de eventos da escola. Para as alunas Larissa Ferreira e Éllen dos Santos, 16 anos, o trabalho é gratificante. “É bom até quando estou chateada. O interesse das crianças dispersa qualquer pensamento ruim”, conta Éllen. Larissa também vê benefícios. “Aprendemos a nos relacionar e a despertar a curiosidade e a alegria”, diz.

É esse entusiasmo solidário que o Faça Parte espera ver brilhando nos olhos dos adolescentes brasileiros. E se depender do histórico do instituto, as chances de realização são boas. O Faça Parte, que nasceu em 2001 para organizar o Ano Internacional do Voluntariado, tem uma trajetória de sucesso. Em um ano, fez o número de voluntários no Brasil passar de 30 milhões para 50 milhões. O bom desempenho foi reconhecido pela ONU, que convidou no fim do ano passado Milú Villela para mostrar o exemplo brasileiro na reunião de líderes mundiais. Na ocasião, ela apresentou ações que garantiriam a sobrevivência do movimento, entre elas o Projeto Jovem Voluntário, que quer realizar nas escolas uma “revolução silenciosa”, como Milú gosta de dizer.

Ações invisíveis, como as realizadas pelo Colégio Estadual de Portão, no município de Lauro Freitas, no norte da Bahia, também serão fortalecidas. O colégio criou o Projeto Memboré (guerreiros, em tupi-guarani) de educação formal para alunos de aldeias indígenas. Em parceria com a organização Multicultural Indígena no Norte, jovens índios são trazidos para a cidade para estudar e depois retornam para dar aulas em suas aldeias. Numa área de 2.500 metros, cedida pelo colégio, eles plantam e fazem demonstrações de sua cultura à comunidade. “Também ensinam tupi na escola”, conta a diretora Débora Fontes Palmeira. Essas atividades ajudam a compor o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, feito com a prefeitura da cidade, que prevê a extensão do horário escolar com aulas de reforço, artesanato e esporte. “Foi a melhor forma de tirar as crianças da rua e do trabalho infantil”, conta a diretora.

O reconhecimento e o apoio oficial para iniciativas solidárias são de extrema importância para o Faça Parte. O projeto, que tem o apoio de ISTOÉ, é realizado em parceria com o Ministério da Educação, com o Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). E sua equipe já comemora uma conquista. “Bahia, Pará e São Paulo aprovaram uma resolução que determina a menção das horas dedicadas ao trabalho voluntário no histórico escolar dos alunos”, comemora Neide Cruz, coordenadora de Relações Institucionais do Faça Parte.

“Esse registro é importante, pois o trabalho voluntário é um diferencial valorizado na hora de conseguir um emprego”, atesta Myrian Tricate, diretora do Colégio Magno, de São Paulo, que há quatro anos realiza projetos sociais entre seus alunos. São 140 estudantes que se dividem para fazer visitas e shows musicais em asilos e creches, dar aulas
de informática e reforço em abrigos públicos, divertir crianças com
câncer ou conseguir a expedição de documentos para a população carente. “Todos são capacitados para realizar essas ações de forma adequada. Sem assistencialismo. O importante é a qualidade e a
doação do trabalho”, explica ela.