O presidente executivo da Volkswagen mundial, Bernd Pischetsrieder, é tido como um homem glamouroso. Fuma só charuto Cohiba, um dos melhores cubanos, gosta de relaxar com uma taça de Dom Perignon, desfruta o café da manhã como se fosse um inglês da aristocracia, lê Platão e Sócrates sem nunca ter adquirido um daqueles MBAs comuns entre executivos de alto nível e tem uma frase à qual recorre desde que passou com sucesso pela BMW, nos anos 90. Eis a tal frase: “A arte de administrar não é nada mais do que comunicação; qualquer outro ‘approach’ é uma receita do século passado.” Belas palavras não tivesse ele aproveitado a apresentação do novo Golf a jornalistas, em Wolfsburg, na semana passada, para tropeçar justamente na comunicação. Com todas as letras, ele afirmou que irá demitir os trabalhadores que entrarem em greve no Brasil, após terem rejeitado uma proposta da montadora para redução de 3.933 postos de trabalho no País.

A ameaça percorreu a distância da Alemanha a São Bernardo do Campo e Taubaté em segundos e, em vez de retrair os trabalhadores da Volkswagen, provocou confusão e de certa forma atrapalhou a negociação entre sindicalistas e empresas em torno do plano de demissão voluntária, transferência e treinamento que deve atingir quase quatro mil funcionários – plano recusado pelos empregados. E o alemão com ascendência árabe da mãe acabou por provocar um fuzuê na subsidiária. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) desdenhou: “Só pode ser piada”, disse Luiz Marinho. “Ele queria impressionar os investidores que participavam da assembléia.” O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijoó, também ameaçou: “Se a Volks desrespeitar os trabalhadores, vamos reagir à altura.” Luís Carlos Moro, diretor da Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas (Abrat), lembrou que a ameaça do executivo constrange o exercício de greve, assegurado na Constituição brasileira. No meio desse vendaval, a montadora decidiu enviar uma carta aos 21 mil empregados das duas fábricas para baixar a temperatura: “Queremos tranquilizar nossos colaboradores e suas respectivas famílias, reafirmando que todos os direitos e garantias a que você tem direito continuarão sendo integralmente respeitados.” E o reverenciado savoir-faire do alemão foi para o brejo. Os trabalhadores de São Bernardo têm estabilidade até 2006 e os de Taubaté até 2004 e não abrem mão disso.