Barman é aquele sujeito que
fica atrás do balcão e, sem alarde, prepara coquetéis para clientes do bar ou do restaurante. Suas roupas também são discretas. Para não chamar a atenção, o máximo de barulho que ele faz é o choc-choc da coqueteleira. Se você frequenta locais onde os barmen ainda agem assim, é bom repensar o programa. Em lugares descolados e bacanas,
a festa deve rolar em todos os cantos. Por isso, é cada vez mais comum encontrar na noite os chamados flair bartenders. São barmen que praticam malabarismos com copos e garrafas enquanto preparam coquetéis.

A prática, comum nos Estados Unidos e Europa, chegou em 1995 ao país com a abertura do bar e restaurante Thanks God is Friday, em São Paulo. Junto com sua primeira loja, o restaurante trouxe dos Estados Unidos o flair bartender americano John Fiori para capacitar seus barmen. Aos poucos a performance despertou a curiosidade de jovens que trabalhavam na casa. Entre eles, a recepcionista Ana Silvia Souza Guilherme, 23 anos. Encantada com os malabares, a ex-modelo resolveu aprender a equilibrar copos e garrafas e se tornou uma das poucas flair bargirls do Brasil. “A profissão é basicamente masculina, mas resolvi encarar. Treinei muito e, em pouco tempo, me tornei chefe de bar. Adoro o que faço”, diz Ana Silvia.

De olho nesse mercado, antigos funcionários do Friday, como Valtencir Bertone, 31 anos, começaram a dar aulas do ofício. “Fui um dos primeiros flair bartenders do Brasil. Depois de um ano e meio na casa, notei o interesse pela apresentação. Saí do restaurante e montei minha escola de flair”, explica ele. A academia de Bertone, que leva seu nome, foi a primeira do ramo, que hoje conta com mais duas escolas – a Flair Brasil e a Shakers – além de cursos extensivos de faculdades de hotelaria e gastronomia, como as paulistas Senac e Anhembi Morumbi.

Após alguma resistência, a tradicional Associação Brasileira de Barmen (ABB)
se rendeu à novidade e incluiu em sua grade
de cursos a opção do flair. Também há dois anos a associação promove o campeonato
de barman freestyle, onde se encaixam os malabaristas do coquetel. Alexandre Varisiano, 30 anos, campeão brasileiro do pan-americano da ABB, realizado em Curitiba este ano, representará o Brasil no próximo campeonato mundial nos dias 18 e 23 de outubro em Sevilha, Espanha. No mundial do ano passado, na Eslovênia, Varisiano – que já passou por diferentes bares da capital paulista e é um dos sócios da escola Flair Brasil – ficou em quinto lugar. “Em vésperas de campeonato treino a coreografia das garrafas oito horas por dia. É preciso calcular cada movimento, medir força e velocidade. A preparação é como a de um atleta”, conta.