01/10/2003 - 10:00
Mergulhar nos recifes da Grande Barreira de Coral da Austrália é uma experiência imperdível. Numa pesquisa da rede de comunicação inglesa BBC, ela aparece em terceiro lugar entre as 50 atividades que todo ser humano deveria praticar na vida. A barreira se estende por pouco mais de mil quilômetros na costa nordeste da Austrália. Embora sem a mesma extensão em área contínua, as magníficas formações de corais no Brasil se espalham em núcleos isolados pela costa, desde o Espírito Santo até o Maranhão, ao longo de três mil quilômetros. E não perdem em nada no quesito beleza para os badalados corais australianos. Tudo isso pode ser conferido ao vivo, e principalmente em cores, em mergulhos no Arquipélago dos Abrolhos, na Bahia; na Costa dos Corais, que vai de Pernambuco a Alagoas; no Parcel Manoel Luís, no Maranhão; em Fernando de Noronha ou no Atol das Rocas. Ou então pelo Atlas dos recifes de coral, lançado na terça-feira 23 em Brasília.
Fruto de um trabalho de três anos coordenado pela engenheira de pesca Ana Paula Prates, do Ministério do Meio Ambiente, o atlas faz um levantamento detalhado dos recifes de corais de nove unidades de conservação, que protegem boa parte dos recifes do Brasil. Entre eles a Ponta da Baleia, em Abrolhos, a Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais, no Rio Grande do Norte, o Parque do Recife de Fora e a Reserva Marinha de Corumbau, na Bahia. Há fotos de satélite, mapas, imagens e descrição dos corais, como o Mussismilia braziliensis, conhecido como coral cérebro, só encontrado em Abrolhos. A espécie é considerada raridade, já que foi extinta do oceano Pacífico. Há também o Millepora sp, ou coral fogo, que tem esse nome porque provoca queimaduras em quem o toca.
A iniciativa brasileira de conhecer e proteger os seus recifes reflete
uma preocupação mundial. Há muito sabe-se que os corais estão
em perigo. “Cerca de 27% dos recifes de corais do mundo estão perdidos”, afirma Ana Paula.
O aquecimento global, a devastação, a pesca e o turismo predatórios são os principais responsáveis. Os recifes de corais são os organismos vivos mais importantes do ecossistema marinho. Comparáveis às florestas tropicais, pois abrigam uma enorme diversidade de espécies que lá vivem, se reproduzem e se alimentam. “Para alguns peixes herbívoros como o badejo e a garoupa, os recifes são como pastos”, diz Guilherme Fraga Dutra, da Conservation International Brasil. Sua importância não se restringe ao aspecto biológico. Eles também protegem a costa das ondas e da erosão e têm grande influência na economia de um país, pois podem atrair o turismo sustentável.
Os recifes de corais são verdadeiras fortalezas, embora sejam
estruturas frágeis. São os organismos mais sensíveis dos oceanos
e facilmente afetados pelas adversidades. Estudo publicado semana passada mostra que em consequência do excesso de dióxido de
carbono (CO2), os oceanos estão ficando cada vez mais ácidos,
o que seria desastroso para o ecossistema marinho. Os primeiros
a sentir os efeitos de tal mudança seriam os recifes de corais. Por
isso, qualquer iniciativa é bem-vinda. Mapear onde vivem essas
frágeis vidas marinhas é um primeiro passo.