Estrela de filmes como Tomb raider: Lara Croft e Sr. e sra. Smith, Angelina Jolie já declarou que faz a maioria das cenas, inclusive as mais perigosas. Tom Cruise, protagonista de Missão impossível e Guerra dos mundos, é categórico: garante que dispensa qualquer ajuda de musculosos. Mas, por mais que os astros de Hollywood sejam vaidosos e gostem de posar de corajosos, são os dublês que entram em ação ao primeiro sinal de risco no set. Estes profissionais podem até passar invisíveis aos olhos do espectador e nos créditos finais, mas na noite do Taurus World Stunt Awards, espécie de Oscar dos dublês do cinema, quem brilha no tapete vermelho são eles. E, se os jurados da Academia olham com desdém para os filmes de ação, no Taurus ganham status de obras-primas. Caso da seqüência do western-spaghetti pop de Quentin Tarantino, Kill Bill vol. 2. Nesta quinta edição da cerimônia, que será exibida na sexta-feira 28 pelo canal pago Multishow, o filme foi o grande destaque. Levou o Taurus nas categorias de melhor luta, melhor dublê feminino e melhor diretor.

Ao receber o troféu das mãos de Robert Rodriguez, diretor de Sin city – a cidade do pecado, Tarantino bancou o engraçadinho. “Não é qualquer um que pode ostentar esse prêmio”, ironizou. Isso porque o Taurus é uma escultura em bronze de aproximadamente 80 centímetros que pesa 12 quilos. Não fosse pela fama, perto dela a estatueta cafona do Oscar passaria despercebida. Mas, à exceção do troféu e das nove categorias inusitadas – como a melhor cena com fogo e com salto –, a cerimônia do Taurus World Stunt Awards tem muito em comum com a noite estrelada do Kodak Theatre. O burburinho do tapete vermelho, em que os indicados e celebridades exibem seus trajes de gala e posam para os fotógrafos, é um exemplo do arremedo proposital. Esqueça, contudo, o glamour dos modelões Valentino, Prada ou Chanel. Afinal, embora arrisquem a pele para que as estrelas não desmanchem o penteado, os heróis anônimos não recebem seus cachês milionários. “Ainda farei uns ajustes finais em um vestido de noite que tenho em casa”, contou Monica Staggs, dublê em Kill Bill vol. 2, em entrevista concedida na véspera da cerimônia, realizada na cidade cenográfica dos estúdios da Paramount, em Los Angeles. Loira, alta, levemente musculosa e tão bela quanto Uma Thurman, Monica foi a vencedora nas categorias melhor dublê feminino e melhor luta, prêmio dividido com a colega Zoë Bell. A dupla participou de uma das cenas mais emocionantes do longa de Tarantino: o duelo sangrento entre a Noiva (Uma/Monica) e Elle Driver (Daryl Hannah/Zoë) dentro de um trailer.

Além dos indicados, quem também desfila em polvorosa pelo tapete vermelho do Taurus são os agentes dos dublês. São eles que indicam aos jornalistas e fotógrafos desavisados a que estrela anônima devem direcionar seus microfones e flashes. Afinal, os concorrentes do Taurus não são fáceis de reconhecer como as celebridades do Oscar. “Pelo menos não precisamos fugir dos paparazzi”, brincou Chris Daniels, vencedor do Taurus de melhor dublê masculino. Baixinho e com o cabelo impecavelmente arrumado com gel, Daniels foi dublê de Tobey Maguire em Homem-Aranha 1 e 2 e se prepara para iniciar as filmagens da terceira aventura de Peter Parker em 2006. Novato no mundo dos atores da adrenalina, Daniels ainda não é dono de uma das características comuns à maioria dos dublês: plásticas corretivas no nariz. Caso da própria Monica Staggs e das irmãs Dona e Debbie Evans, dublês em Taxi, filme que tem como atrizes a top Gisele Bündchen e a rapper Queen Latifah. “Já quebrei duas costelas, o nariz e desloquei o maxilar em cena”, explicou Debbie, que teve de abandonar as filmagens quando descobriu que estava grávida. Foi substituída pela mana. “Se minha filhinha quiser seguir minha profissão, vou dar o maior apoio. Mas antes vou recomendar que pague um bom seguro de vida”, diz, às gargalhadas.

Fraturas – Quem também contabiliza inúmeros hematomas
e fraturas em cena é Billy Lucas, dublê oficial de Arnold Schwarzenegger há 20 anos. “Arnold é uma ótima pessoa, acabou se tornando um amigo pessoal”, garante. Grandalhão e falante como seu titular, Lucas é vaidoso. Não revela a idade e muito menos assume a visível plástica no nariz. Ao ser questionado se aceitaria o papel de dublê do Schwarzenegger governador da Califórnia, caiu na pura bajulação. “Claro que não! Na política ele faz tudo sozinho. Mas, se você quer mesmo saber, eu votei e votaria de novo nele.” Um dos maiores entusiastas do Taurus, Schwarzenegger retribuiu aos elogios com um gracejo. “Adoro a comunidade dos dublês porque 80% votaram em mim. Os outros 20% não votaram, pois me viram atuar em Junior”, disse o político-ator, mencionando o filme de 1994, no qual vive um pesquisador sensível que fica “grávido” após uma experiência científica em laboratório. Para viver o personagem, imitou o colega Tom Cruise e dispensou dublês.