Foram algumas poucas horas mágicas, em que os machetes das gangues e os fuzis dos “capacetes azuis” da ONU silenciaram para assistir à disputa entre a maior seleção de futebol do planeta contra uma, modestíssima, cuja última participação numa Copa do Mundo remonta a 1974. O resultado, Brasil 6 x Haiti 0, seria um desastre nacional não fossem os haitianos fascinados pela Seleção Brasileira e seus craques. O jogo, realizado em 18 de agosto de 2004 no pequeno estádio de Sylvio Cator, em Port-au-Prince, com 15 mil pessoas, foi registrado no emocionante documentário O dia em que o Brasil esteve aqui, de Caíto Ortiz e João Dornelas, com roteiro do jornalista Fábio Altman, em exibição na 29ª Mostra BR de Cinema de São Paulo. Se foi um bálsamo para os sofridos haitianos – que vivem numa terra arrasada pela miséria absoluta (70% da população), por guerras civis intermitentes e pela violência generalizada –, o jogo talvez tenha criado a perigosa ilusão de que o futebol brasileiro “é como água benta”, como disse Lula lá. O Brasil, que tem 1.200 soldados e comanda a Força de Paz da ONU no Haiti, sabe que não é bem assim.