Foi Foi uma reunião com apenas duas horas de duração, rápida para os padrões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. E, por unanimidade, foi decidida a redução em 0,5% na taxa básica dos juros, a Selic, que passou para 19% ao ano. O valor ainda representa juros reais (descontada a inflação) estratosféricos de 13,6% ao ano, o dobro dos praticados pelo vice-líder, a China, com 6,6% ao ano. Mas é um bom sinal. Depois de um ano sem abaixar juros, o BC fez em setembro uma pequena redução de 0,25% e agora, tudo indica, está começando a acelerar o processo. “Espero que eles se sensibilizem para a necessidade de abaixar os juros em ritmo mais rápido. As condições no momento são as ideais, com inflação seguindo em queda, atividade econômica baixa e necessidade de dar um estímulo à economia”, afirmou o economista e ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas.

Embora já esperada pelo mercado, a redução da taxa em 0,5% foi considerada insuficiente pelos empresários do comércio e da indústria, que vêm há meses pedindo mais ousadia aos técnicos do Copom em relação aos cortes nos juros, principal responsável pelo freio na expansão econômica do País. “O Copom continua com o pé no freio”, reclamou Paulo Skaf, presidente da Fiesp, a federação que reúne as indústrias paulistas. Do lado do comércio, é unanimidade entre os comerciantes que juros entre 19% e 18% ao ano vão servir para desestimular as compras do Natal deste ano. A economia brasileira, segundo eles, suportaria sem grandes sobressaltos uma redução mais vigorosa nos juros. “A inflação está morta. Temos gordura para queimar sem gerar aumento de preços”, concorda Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Almeida vai mais longe: acredita que, apesar de algumas nuvens negras no cenário externo (preços do petróleo, inflação americana), 2006 pode ser o ano de recuperar o crescimento que abortamos por causa dos juros altos em 2005.

Acelerar a queda nos juros será o tema de uma reunião, na próxima semana, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a equipe que terá a missão de criar um plano que permita baixar os juros sem comprometer as metas de inflação e estabilização monetária. Uma das maneiras para se conseguir isso é dar continuidade ao forte ajuste fiscal. A leitura que se faz é de que a economia com os juros da dívida pública conseguida com a redução das taxas não será toda gasta pelo governo, mas servirá para aumentar o superávit primário. E é exatamente aí que podem ocorrer problemas. Mas, de qualquer modo, alguns analistas acreditam que, mesmo sem esse novo plano, o BC terminará 2005 com os juros ligeiramente abaixo de 18% (taxa que, até o momento, é a previsão do mercado). “Não me surpreenderia se a taxa cair em dezembro para 17,5%”, diz Carlos Thadeu. O motor por trás de uma redução dessas seria entrar em 2006 em condições de administrar as taxas de juro em função de menores quedas da inflação, que sofrerá, nos primeiros meses, algum tipo de impacto dos reajustes nas mensalidades escolares e em preços administrados (telefonia, energia, etc.)

Teste do pudim – Mas se ao longo do ano a inflação seguir convergindo para a meta de 4,5% em 2006, projetada pelo BC e pela equipe econômica, a expectativa é de que a taxa Selic termine o ano entre 13% ou 14%, deixando o juro real em 9% ou 10%. Mesmo esse valor, aparentemente baixo para os padrões de hoje, seria o mais alto do mundo e garantiria que o fluxo de investimentos estrangeiros continuasse. Outro aspecto que pode levar o BC a seguir com a política de quedas nos juros é o fato de que o dólar continuou em queda. “Foi o teste do pudim. Baixaram os juros em 0,5% e o dólar nem ligou”, comenta o economista. Dentro dos planos do governo, está a aposta de o dólar permanecer quieto em valores muito parecidos aos atuais, o que ajuda a segurar a inflação. E os recordes seguidos nas exportações – tanto em volume de vendas quanto, especialmente, no faturamento – estão servindo para derrubar o mito de que só se exporta com o real na bacia das almas.