Não fosse o estilo apurado, muitas histórias relatadas pelo escritor mineiro Olavo Drummond no recém-lançado O vendedor de estrelas (Arx, 238 páginas, R$ 30) poderiam ser ouvidas noite adentro, à beira do fogão de lenha de uma fazenda. Em particular aquelas que se referem ao sobrenatural descrito com humor, refletindo encontros entre personagens que circulam pelo mundo
e outros que, pelo menos oficialmente, já partiram. Embora tenha dedicado os últimos anos a outras atividades, o autor – ex-ministro
do Tribunal de Contas da União (TCU) e ex-prefeito de Araxá (MG) – demonstra que continua com a sensibilidade e a escrita tinindo. Com
50 contos curtos, a obra recebeu o título da primeira narrativa, sobre
a “corporificação” de uma estrela chamada Vésper na vida de um sitiante celibatário. Trata-se de ficção permeada por discreto romantismo e sutil ironia, num resultado dos melhores.

O vendedor de estrelas é o quinto livro de Drummond, que estreou na literatura em 1976, ao publicar Noite do tempo, seleção de poemas com prefácio do presidente Juscelino Kubitschek. Os dois foram grandes amigos. Não por acaso, o conto que fecha a série agora publicada remete a um relato feito a JK por uma senhora durante a comemoração de seus 60 anos de casada. Na ocasião, Kubitschek comentou que, observando o casal, chegava a acreditar em amor eterno. Sem desmerecer o sentimento que a unia ao marido, a surpreendente senhora demonstrou o quanto o amor é relativo com uma história passada em Araxá no começo do século passado. Como as outras, as histórias de Olavo Drummond são impregnadas de total espírito mineiro.