Se tem algo que o cantor e compositor inglês Sting sabe fazer é se rodear de ótimos músicos e parceiros. Em Sacred love, primeiro álbum de estúdio em quatro anos, o ex-vocalista e baixista do Police reuniu um time de primeira formado por habituais colaboradores, como o guitarrista Dominic Miller e o baterista Manu Katche, e por novatos do nível do violonista espanhol Vicente Amigo, da cantora americana de rhythm’ blues Mary J. Blige e da indiana Anoushka Shankar, filha do mestre da cítara Ravi Shankar. A reunião diz bastante sobre a faceta world music do novo trabalho, que, a exemplo de álbuns anteriores, também flerta com sonoridades jazzísticas.

Algumas canções conquistam já na primeira audição, caso da intimista The book of my life, sobre a experiência de escrever sua autobiografia,
e da sensual e funky Forget about the future. Mas, apesar das boas idéias sonoras – como casar a guitarra flamenca de Vicente Amigo com
o trompete de Chris Botti na espanholada Send your love –, a mistura
soa muitas vezes monótona, culpa também das letras sempre caudalosas. Não haveria o menor problema se Sting fosse um compositor como Bob Dylan, por exemplo, capaz de narrar uma longa história sem cansar o ouvinte. Mas, na pretensão de soar literário, Sting constrói versos
que repetem a estrutura ad infinitum. Artifício presente nas baladas Whenever I say your name e Inside, na qual alinha 12 versos iniciados pela palavra que dá nome ao título, outros tantos começados com outside e mais um tanto com love.