01/10/2003 - 10:00
Veneza se mostra em todo o seu esplendor decadente – úmida, enigmática e fria, com um Donald Sutherland refletindo a nobreza da cidade italiana, passeando seu charme na praça São Marcos. Visto assim, falando calmamente ao celular com a filha nos Estados Unidos, não dá para imaginar seu passado de contraventor prestes a renascer. Sutherland é o grande arrombador de cofres John Bridger, que, junto a uma azeitada turma de especialistas, planeja um roubo histórico na superaventura Uma saída de mestre (The italian job, Estados Unidos, 2003), que estréia nacionalmente na sexta-feira 3. O plano de tirar de dentro de um palazzo um cofre lotado de ouro tem tudo para dar certo. Agregam-se a Bridger, o astuto ladrão Charlie Croker (Mark Wahlberg), responsável pela estratégia da empreitada; seu braço direito, Steve Frezelli (Edward Norton); o cobra em computador Lyle (Seth Green), que jura ter criado um programa para baixar músicas da internet, quando tirou uma soneca e foi roubado por Shawn Fanning, da Napster; o habilíssimo motorista Rob Bonitão (Jason Statham); e Ouvido Esquerdo (Mos Def), que ganhou o apelido quando garoto, depois de explodir uma “bomba” no banheiro da escola e ficar surdo.
Após o roubo espetacular, o grupo comemora o feito com o melhor champanhe, rodeado pela neve dos Alpes italianos. Acontece que, entre eles, há um traidor que não quer dividir os US$ 35 milhões. Dá-se a reviravolta e, um ano mais tarde, já nos Estados Unidos, os traídos só pensam em vingança. Rastreiam o caminho do traidor e, junto à gatíssima Stela (Charlize Theron), expert em abrir cofres para a polícia, planejam executar um contra-roubo ainda mais espetacular. Cheio de humor e adrenalina, a aventura dirigida por F. Gary Gray destaca-se entre outros filmes do gênero por quase não conter violência. Segue a linha de Missão impossível, menos elaborado, é certo, mas com roteiro inteligente e pontilhado de surpresas. Perseguições há, claro. Mas, primeiro, parte delas é feita nos canais de Veneza. As filmagens, aliás, exigiram muita compreensão, simpatia e tour de force das autoridades italianas, que reescreveram a lei de baixa velocidade das lanchas com o compromisso da equipe americana de respeitar a cidade monumento.
A histérica movimentação das lanchas, mais tarde substituída pela correria de carros nos túneis do metrô e na calçada da fama, em Hollywood, só ajudam o espectador a compactuar com os ladrões traídos. Como não pode faltar merchandising, um outro personagem, nada humano, assume o papel de estrela. É o Mini, eleito o carro americano do ano de 2003, que, no filme, só não faz mais estrepolias que as máquinas envenenadas de James Bond, mas é capaz de manobras tão radicais quanto elas. Espécie de homenagem a Um golpe à italiana, aventura de 1969, estrelada por Michael Caine, Uma saída de mestre garante diversão, emoção e disputa, sem sangue, e ainda com o charme de mostrar Veneza como brinde.