O que pensa FHC
A sorte do presidente Lula é que, em meio à maior crise de seu governo, a oposição também não anda se entendendo. O PFL ficou irritadíssimo com o discurso do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Netto, estendendo o tapete da governabilidade a Lula logo na segunda-feira 6, quando foi publicada a explosiva entrevista do presidente do PTB denunciando o mensalão no Congresso. Não só pelo discurso, mas por saber que o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso estava por trás do senador tucano. Em telefonema a Virgílio, FHC disse o seguinte: “Lula só não sucedeu Fernando Collor de Mello porque Collor sofreu um impeachment. Se ele for apeado do cargo agora – não se iluda, Virgílio –, não seremos nós os eleitos em 2006.” Fernando Henrique disse temer que, em caso de débâcle do atual governo, viria o caos, “e, aí, o PFL, um aventureiro do PMDB, ou mesmo de um partideco qualquer, fará o novo presidente”. O melhor, para os tucanos, é que Lula chegue enfraquecido a 2006, mas que ele chegue lá.

Político-criminal
Em tempos de escândalos, como mensalão, propina nos Correios, Romero Jucá, Henrique Meirelles, etc. etc., o presidente Lula preferiu não chamar um político para elaborar o projeto de reforma política. Chamou o advogado e ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos (foto), que nunca concorreu nem a síndico de condomínio. Mas que é um criminalista de mão-cheia.
 
 
Blindagem no IRB
Recém-afastado do comando do IRB, Apolônio Netto encontrou uma forma segura de evitar que a oposição venha com muitas pedras contra sua administração. Circula no Congresso que ele entregou ao tio, o deputado Delfim Netto (PP-SP), um farto dossiê sobre irregularidades praticadas durante o governo tucano.

E Dirceu volta à berlinda
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (foto), voltou da Europa direto para o olho do furacão. Exatamente quando o presidente Lula tem dito a amigos que está, de fato, pensando em promover mudanças no seu Ministério (Lula não gosta da expressão “reforma ministerial”). E que a principal delas seria transferir José Dirceu para a área social, tirando-o do Palácio do Planalto.
 
 
Especialista em desembarque
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é um sobrevivente. Sabe deixar a barcaça aos primeiros sinais de perfuração no casco. O governador tucano Aécio Neves e o ex-presidente peemedebista Itamar Franco são hoje as duas maiores raposas políticas de Minas Gerais. Pois Renan, Itamar e Aécio têm conversado ultimamente sobre uma possível aliança entre o PMDB e o PSDB em 2006.
 
 
Rápidas

• “Quem pariu Mateus que o embale.” É como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva referiu-se textualmente ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares, numa conversa descontraída, na quinta-feira 9.

• Mas a avaliação da cúpula do PT é que Lula está redondamente enganado se pensa que pode deixar o partido sozinho carregando a crise do mensalão. Para os petistas, a imagem do presidente está presa ao PT. Se um naufraga, o outro vai junto.

• O senador Edison Lobão (PFL-MA) disse não três vezes ao governo e ao PFL, quando convidado a presidir a CPI dos Correios. Lembrou ter indicado um dos diretores recém-demitidos do IRB. Não é boa hora de se jogar no centro da confusão.

• O presidente Lula comunicou ao PMDB que já escolheu o próximo procurador-geral da República. Trata-se de Eithel Santiago, 4º lugar na votação direta entre os procuradores, mas que venceu entre os funcionários do Ministério Público.

• Acredite quem quiser. Indicado por Collor para o Supremo Tribunal Federal, o ministro Marco Aurélio de Mello tem dito a amigos que os escândalos envolvendo o PT foram a maior decepção de sua vida.