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SOZINHA Dilma deixou o hospital acompanhada apenas por seu assesssor

As fortes dores que levaram a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a cancelar a agenda e se internar às pressas na madrugada da terça-feira 19, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, são comuns em pacientes submetidos a tratamento quimioterápico. O que chamou a atenção no caso da ministra não foram as dores em si, mas o seu isolamento político. Durante as 34 horas em que permaneceu internada, ela conversou por telefone uma vez com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não recebeu sequer uma visita, apesar de os principais dirigentes do PT estarem em São Paulo. Entre os colegas de governo, a evolução da saúde de Dilma foi acompanhada a distância pelo presidente em exercício, José Alencar, e pelo chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. Nenhuma autoridade ou liderança parlamentar se dispôs a visitá-la no quarto do hospital. Do governador José Serra e do prefeito Gilberto Kassab também não partiu nenhum gesto mais expressivo de apoio. Na quintafeira 21, assessores informaram que os médicos teriam recomendado que ninguém a visitasse. Se de fato houve tal determinação, ela se estendeu inclusive aos familiares, pois Dilma não recebeu nenhum parente. “O estilo temperamental da ministra pode ter inibido algumas visitas”, diz um dirigente nacional do PT.

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Às 13h30 da quarta-feira 20, quando deixou o hospital acompanhada apenas pelo assessor pessoal, Anderson Dornelles, a ministra concedeu rápida entrevista coletiva, na qual indiretamente fez menção ao isolamento. “Agradeço a solidariedade recebida”, disse Dilma. “Agradeço as manifestações de carinho e às pessoas que estão rezando por mim.” Em seguida, disse ser de mau gosto relacionar a doença com a política.

Dilma começou a se sentir mal na tarde da segunda-feira 18. Contrariando determinação médica, passava das 15 horas e ela ainda não havia almoçado. Durante audiência com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, as dores nas pernas aumentaram. Assustada, Dilma ligou para seu cardiologista, Roberto Kalil Filho, que recomendou um medicamento intravenoso. Acompanhada apenas por Dornelles e pela secretária-executiva Erenice Guerra, Dilma se encaminhou ao Hospital das Forças Armadas, onde lhe aplicaram o remédio prescrito por Kalil. Como a medicação não surtiu efeito, por volta da meia-noite, Dilma embarcou em jato-ambulância da Amil para São Paulo. Mais uma vez, apenas com Dornelles e Erenice. A ministra deu entrada no Hospital Sírio Libanês às 3h, onde era esperada somente pelos médicos. Erenice logo deixou o hospital e pela manhã retornou para Brasília. A ministra passou o resto da noite acompanhada pelo assessor pessoal.

Quando deixou o hospital, Dilma foi para um hotel em São Paulo, com a recomendação de manter repouso até o final da semana. Recomendação que não foi cumprida. Na sexta-feira 22 ela despachou com o ministro Guido Mantega, em São Paulo, e à tarde voou para Brasília. Na segunda-feira 25, estava prevista sua participação na reunião da coordenação política, com o presidente Lula. Mas uma coisa é certa: ela terá de rever sua agenda e diminuir as viagens por conta do PAC. Faltam quatro sessões de quimioterapia que serão realizadas com intervalos de três semanas. “As dores não têm nada a ver com o câncer. É um efeito adverso e transitório do tratamento”, explica o oncologista Cármino Antonio de Souza, da Unicamp.

Ao deixar o hospital, Dilma esforçou- se em transmitir tranquilidade sobre seu estado de saúde. “Ontem, eu estava com muita dor nas pernas. Tomei cortisona em doses altas nos dias 15, 16 e 17 e depois os médicos suspenderam. Hoje estou bem, a dor passou. Foi um dia ruim, porque a dor é desagradável”, contou. Com o rosto bastante inchado pelo efeito da cortisona, Dilma fez piada de si mesma. “Não engordei e infelizmente não emagreci também”, disse, rindo. Ela explicou que não teve enjoos, mas os cabelos começaram a cair. “Estou usando uma peruquinha básica. Espero que, quando crescer, eu possa tirar a peruca. É muito chato”, brincou.

Embora a ministra não queira misturar seu drama pessoal com a sucessão presidencial, o próprio presidente Lula faz movimento em direção oposta. Em Pequim, ele afirmou que Dilma “está totalmente curada” e também reafirmou que não quer discutir a hipótese do terceiro mandato. “Dilma está muito otimista, tranquila, e permanece a nossa pré-candidata à Presidência”, diz o ministro da Justiça, Tarso Genro. Se tudo correr bem, Dilma poderá tocar a pré-campanha a todo vapor a partir de outubro. Essa é a aposta dos dirigentes do PT. “Não há nenhuma vírgula de fala sobre a questão da candidatura. Temos convicção de que a doença foi extirpada, mas ela precisa se cuidar”, diz Gilberto Carvalho.