A notícia do nascimento de um menino, divulgada na semana passada na Inglaterra, está assombrando especialistas em reprodução humana. Gerado por meio de inseminação artificial, o garoto é aparentemente saudável. Mas há um detalhe que deixou perplexa a comunidade médica: o sêmen que permitiu a concepção teria sido comprado via internet. Mais ou menos como se fosse
um desses CDs adquiridos
em sites americanos.

A venda de esperma pela web não é novidade. Há bancos de sêmen americanos que disponibilizam na rede serviços de rastreamento de doadores. Mas eles têm o respaldo de renomados especialistas. “São dirigidos por pessoas com excelente formação e com licença para fazer o que fazem”, explica o médico Paulo Serafini. Não é o que dá para garantir no caso do bebê inglês, cuja identidade não foi revelada. O sêmen teria sido vendido pelo site ManNotIncluded, um serviço que não inspira confiança aos doutores, até pelo nome jocoso (Homem Não Incluído). Foi o dono do site, John Gonzales, que anunciou o nascimento do garoto.

Criado em 2002, o site surgiu para atender lésbicas e mulheres que desejam uma produção independente. Interessadas se cadastram (a taxa de registro é de US$ 150), selecionam candidatos a pai, pagam pela análise do sêmen (US$ 2.420) e aguardam a cegonha. O problema é que o serviço não deixa claro se o processo – tanto de coleta quanto de inseminação – segue os padrões médicos. Nas páginas do ManNotIncluded, por exemplo, está aberta a possibilidade de se fazer a inseminação em casa. Nessas condições, o sêmen a ser utilizado só pode ser o descongelado – o congelado é manipulado em laboratório. Mas, para efeito de fecundação, ele deve ser usado até três horas depois de colhido. E o máximo que se pode atingir é o fundo da vagina, enquanto os especialistas fazem a inseminação dentro do útero. “É pouco honesto propor ao casal esse método como forma de gerar uma criança”, afirma Edson Borges, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida. Do ponto de vista ético, também há dúvidas. Segundo Borges, é cada vez mais comum casais homossexuais e mulheres solteiras procurarem as clínicas de reprodução. “Mas o acompanhamento psicológico é necessário. Não se sabe se o site cumpre essa prática”, observa. Não é à toa que a entidade que regulamenta a reprodução artificial na Inglaterra condenou o serviço. O site anunciou que há mais 20 futuras mamães com bebês já encomendados.