A descoberta de tratamentos que tragam o mínimo de sofrimento às pacientes é uma prioridade da medicina. Um novo método com essas características acaba de desembarcar no Brasil para tratar miomas, os tumores benignos que aparecem no útero de metade das brasileiras em idade fértil, especialmente entre 30 e 45 anos. Em março, o Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro, colocará em funcionamento o primeiro equipamento que combate o problema com ondas de calor e sem cortes cirúrgicos. A técnica associa um aparelho de ultra-som, que dispara ondas de alta freqüência, a um outro de ressonância magnética que fornece imagens do interior do útero para guiar a aplicação a pontos específicos dos miomas. O procedimento eleva a temperatura nos tecidos que formam o tumor a cerca de 100 graus, levando à sua destruição. Aprovado para tratar esse tumor em 2005 pelo FDA, a agência americana que regulamenta procedimentos de saúde, o recurso está em estudo para outros tumores, como câncer de próstata.

Hoje, o ultra-som pode ser uma boa opção para mulheres com miomas que não têm intenção de engravidar e querem preservar o útero. Mas é visto com reservas pelos médicos para mulheres que ainda querem ter filhos. “É um grande avanço, mas é prudente esperar os estudos em andamento para avaliar as chances de seqüelas, como cicatrizes ou fragilidades na parede do órgão, que possam interferir na fertilidade e no desenvolvimento da gestação”, observa Mariano Tamura, médico do setor de mioma uterino da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Max G Pinto

EXAGERO Para Olmos, diversas mulheres com mioma não precisam tirar o útero

A nova técnica se soma a outros procedimentos minimamente invasivos como a histeroscopia, que remove o mioma por via vaginal, e a laparoscopia, feita com pequenas incisões no abdome. Outro método que está ganhando espaço é a embolização, que existe há uma década e é realizada com a introdução de um microcateter. Ele entra no corpo por uma artéria na coxa e libera substâncias que impedem a irrigação sangüínea do tumor, fazendo-o murchar. A escolha de uma dessas técnicas depende do tamanho, da localização, do tipo de tumor e da vontade da mulher. “Em diversos hospitais e na Unifesp, a embolização é oferecida como opção à histerectomia (a retirada do útero) em casos especiais, para tratar os miomas de quem quer manter o útero”, afirma o ginecologista Cláudio Emílio Bonduki, um dos pioneiros da técnica no País.

Apesar dos avanços, a retirada do útero ainda é a cirurgia mais comum em mulheres em idade fértil, perdendo apenas para o parto cesariano. Estudos indicam que pelo menos 20% das mulheres submetidas a ela poderiam fazer tratamentos que preservassem o útero ou nem sequer mexessem nos miomas. Um dos problemas é a falta de diagnóstico correto. “Ainda se fazem muitas remoções desnecessárias. Há casos em que o sangramento no climatério está relacionado a mudanças hormonais e não à presença de um mioma, que pode ser deixado em paz”, explica o ginecologista Paulo Olmos, especialista em reprodução humana. A demora para ir ao médico também contribui para as cirurgias mais agressivas. “É comum ver mulheres com um ou mais miomas em estágio avançado na rede pública. Muitas desconhecem os sintomas ou têm medo de uma cirurgia”, diz Bonduki. A orientação dos especialistas para descartar a existência de miomas ou monitorar sua evolução é fazer exame ginecológico e ultra-som todo ano.