Toda criança fica preocupada se vai crescer mais e, principalmente, quanto vai crescer. No meio de tanta expectativa e sonho em não ser o último da fila na escola ou poder entrar na turma do basquete, a maioria delas precisa apenas de paciência. O crescimento ocorrerá da maneira esperada. Mas uma parte dos pequenos precisará de uma mãozinha. Por isso, recentemente o Food and Drug Administration, órgão que regula medicamentos nos Estados Unidos, aprovou o uso da somatotrofina, o hormônio de crescimento sintético, também por crianças que não manifestam claramente problemas na produção da substância, mas apresentam crescimento inadequado. Até hoje, as indicações do remédio incluíam, entre outros, casos nos quais havia deficiência comprovada do hormônio e situações especiais nas quais, mesmo sem ocorrência de déficit, o uso do hormônio mostrava-se eficaz. Entram nessas condições, por exemplo, crianças com insuficiência renal crônica.

No Brasil, o laboratório Eli Lilly, que produz o remédio usado no teste
que resultou na aprovação pelo FDA, garante que em breve entrará
com o pedido da revisão do uso da droga no Ministério da Saúde. E imagina-se que as outras indústrias que também fabricam o hormônio tomem a mesma iniciativa.

A nova aprovação pode fazer brilhar os olhos de muitos baixinhos, mas a entidade americana deixou claro que o hormônio não está liberado para quem simplesmente se acha pequeno, mas para aqueles que de fato possuem alterações que atrapalham o crescimento, embora elas não sejam facilmente identificadas. “Chamamos isso de baixa estatura idiopática ou sem causa definida. São disfunções não detectadas pelos exames, mas sabemos que elas estão lá”, afirma Durval Damiani, coordenador do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria. Na verdade, sabe-se que a dificuldade de crescer está relacionada a alguma deficiência relativa ao hormônio – seja sua produção pela glândula hipófise, seja sua liberação – ou a mecanismos que interferem na geração de uma substância chamada fator de crescimento, produzido principalmente no fígado.

Mas a altura não é a única coisa que importa para saber se o último da fila na escola será sempre pequeno. Os médicos também levam em consideração a chamada idade óssea da criança. Ela pode ser definida como o potencial de crescimento do indivíduo e é avaliada a partir de exames de raio X. “A idade óssea é mais importante do que a altura da criança. Se ela está pequena, mas a idade óssea também está atrasada, pode-se tratar apenas de um atraso natural”, explica Angela Spinola, responsável pelo setor de endocrinologia pediátrica da Universidade Federal de São Paulo. A situação se configura em um problema se a criança está baixinha, mas a idade óssea está normal – ou até adiantada para a idade – e o histórico da família indica uma altura superior àquela. Nesses casos, o tratamento – à base do hormônio de crescimento sintético – é indicado.

No entanto, na ânsia de ganhar centímetros a mais, muita gente que não tem problema de crescimento acaba procurando o médico. “As pessoas associam a altura ao sucesso”, afirma Damiani. Para a psicóloga Adriana Machado, da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo, a estatura é colocada como padrão estético. “Há uma valorização exagerada do alto e magro, características que acabam virando sonho impossível para muitos”, diz. “Mas as crianças e os jovens não podem achar que a altura é a causa de seus problemas, porque ela não é. Eles têm de saber se colocar como baixinhos”, reforça Adriana. Luís Alves Pereira Neto, mais conhecido como Ferrugem, é um exemplo de quem soube tirar proveito do tamanho.
Com 36 anos e 1,63 m de altura, ele garante que adora ser baixinho. “Sempre fui meio moleque, minha estatura e meu rosto casavam
com meu astral”, conta.

O ator apresentava um problema de funcionamento na hipófise e por isso cresceu muito lentamente. Depois de um tratamento, realizado há cerca de dez anos, ele cresceu bastante, mas para os padrões continua baixinho. Sua altura, porém, lhe garantiu durante anos o papel de menino em uma propaganda de sapatos, entre outros trabalhos. “E as mulheres gostam”, garante. É muito comum, porém, pessoas baixinhas serem tratadas como crianças. Mas a psicóloga Adriana ensina que é preciso combater essa postura fazendo pose de mais velho. “Usar roupas e uma linguagem características da idade ajuda a mostrar quantos anos o indivíduo tem”, diz.