Quando o megainvestidor americano George Soros preparava a terceira edição de seu livro Alquimia das finanças, no ano passado, encontrou respostas teóricas para um fenômeno considerado a maior contradição de sua vida: embora atribua o sucesso à sua teoria de mercado, usa instinto para tomar decisões. As costas de Soros sempre começam a doer antes de ele ter a consciência de que precisa realizar alguma mudança. Assim que descobre o que há de estranho, a dor cessa imediatamente. As respostas para o mistério estavam no estudo Como George Soros sabe o que sabe, de Flávia Cymbalista, 39 anos, paulista e PhD em finanças pela Universidade Livre de Berlim, com pós-doutorado em psicologia cognitiva pela Universidade de Berkeley. Flávia conseguiu explicar como combinar análise e instinto.
Mostrou que são complementares e podem ser usados juntos, como
faz Soros. Por essas e outras credenciais, ela exerce em Nova York
a curiosa atividade de “especialista em incertezas”. Após terminar seu estudo, no ano passado a brasileira resolveu enviá-lo ao megainvestidor. “Pouco depois, estava comendo sushi em um restaurante na Holanda, quando me chamaram ao telefone. Era Soros me convidando para um almoço”, relata Flávia. Após duas horas de conversa, o investidor incluiu idéias da pesquisadora em um novo capítulo de seu livro, além de
ter fornecido versões do texto para Flávia analisar. Embora não lhe
tenha dado o crédito, ele a incluiu na lista de agradecimentos ao
lado de alguns prêmios Nobel.

Ela já trabalhou com centenas de decisões. Um de seus clientes, que dirige um hedge-fund (fundo protegido), apresentava sintomas de úlcera, mas nada aparecia quando ia ao médico. “Descobrimos que ele corria mais riscos do que o necessário e seu corpo reclamava. Agora, usa o sintoma para reconsiderar suas decisões”, exemplifica. Ou seja, uma dor no estômago pode levar o investidor a mudar uma atitude empresarial. O preço por sessão particular é US$ 300; para empresas, US$ 600. Flávia atende pessoas que tomam decisões estratégicas. Ela diz que em dez sessões o cliente aprende a usar o método sozinho. Questões como as relações sentimentais ou problemas familiares também são abordadas quando interferem na tomada de decisão. Sua tese de doutorado Sobre a impossibilidade de avaliação racional sob incerteza propõe uma nova visão do consenso de que profissionais processam informações como computadores. “Eles são um organismo vivo, o que permite explicar muitas anomalias, como as flutuações e a volatilidade dos preços”, cita. Também mostrou que a racionalidade devia ser mais do que uma análise lógica: “A racionalidade deve incluir a intuição.”

Depois de muita pesquisa, Flávia encontrou a base teórica que
procurava no trabalho do filósofo e psicólogo Eugene Gendlin, austríaco naturalizado americano e professor na Universidade de Chicago. Gendlin sistematizou a relação entre o pensamento lógico e a experiência corporal, além de criar um método que ensina a pessoa a “ouvir” seu próprio corpo. “E eu criei uma forma para as pessoas usarem esse conhecimento na tomada de decisão.”