20/08/2003 - 10:00
As estatísticas continuam amedrontando. A indústria nacional fechou o segundo trimestre em recessão, registrando retração em dois trimestres consecutivos. O aumento do desemprego, a queda da renda e os juros altos fizeram com que o volume de cheques devolvidos por falta de fundos batesse recorde nos primeiros sete meses do ano. Falta
dinheiro, falta emprego, mas não faltam sinais de que a economia está engrenando. Mais lentamente do que as expectativas da população ao eleger Lula presidente. Mas, ao que tudo indica, na direção certa. O setor de infra-estrutura, que gera milhares de empregos, está desengavetando projetos que se tornarão o carro-chefe da retomada do desenvolvimento – e da volta do emprego. A indústria de carros, com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), baixou os preços para vender. A taxa básica de juros – que será anunciada pelo Comitê de Política Monetária na quarta-feira 20 – deve seguir na trajetória descendente. Também sopra bons ventos a edição de quinta-feira
14 do jornal inglês Financial Times ao constatar que a “reforma previdenciária coloca o Brasil de volta nos trilhos”. Alguns vagões já
estão prontos para partir. Acompanhe:
Carros
O debilitado setor automotivo aos poucos vai deixando a crise para trás. Os últimos números da Anfavea (entidade que reúne as montadoras) mostram que a produção este ano já é superior à de 2002. O salto é de apenas 2,6% nos sete primeiros meses do ano, mas suficiente para uma reversão das expectativas. Hoje a indústria mantém a previsão de fechar o ano com 1,4 milhão de unidades fabricadas, um número que vinha encolhendo seguidamente. O destaque dos primeiros sete meses do ano é o mercado externo, que teve um acréscimo de 35%. As vendas no mercado interno já devem estar reagindo, embora as estatísticas de julho tenham mostrado uma retração de 8,3% em relação ao ano passado. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados sobre carros com motor de até 2 mil cilindradas, autorizada pelo governo há duas semanas, chegou aos consumidores. As concessionárias de São Paulo operam com descontos de até 15% nos carros populares, muito acima da previsão inicial dos analistas. As montadoras esperam que a queda no imposto, válida até novembro, ajude a vender até 100 mil unidades.
Bolsa
Pesquisa da Thomson First Call com mais de 20 corretoras e bancos apontou que o Ibovespa, índice que reúne as 54 ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, tem potencial para subir quase 34% nos próximos 12 meses. Outra pesquisa – esta da Merrill Lynch – conclui que ações de empresas de países emergentes – como o Brasil – oferecem hoje um preço atrativo, com perspectiva de crescimento nos lucros. A pesquisa foi feita com 276 administradores de fundos de investimentos de todo o mundo. No ano, o capital externo na Bolsa paulista somou R$ 2,654 bilhões; em 2002, o período marcou a saída de R$ 1,6 bilhão. O estudo da Thomson aponta as ações de empresas de concessões rodoviárias e de telecomunicações como as de maior potencial de alta.
Infra-estrutura
Com previsão de investir R$ 19,4 bilhões nos próximos quatro anos, o governo quer desengavetar já os projetos de infra-estrutura e transformá-los no carro-chefe da retomada do desenvolvimento do País. Os recursos virão de dotações orçamentárias, financiamentos públicos e parcerias com o setor privado. A idéia é privilegiar obras nas áreas de transportes (recuperação de estradas), energia (construção de hidrelétricas), saneamento básico, habitação e infra-estrutura hídrica (melhoria e expansão dos portos) e gerar rapidamente um número grande de empregos. Na segunda-feira 11, em uma reunião com 12 ministros, mais o vice José Alencar e os presidentes do BNDES, Petrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu pressa e recomendou que seja dada prioridade aos projetos que chamou de “factíveis” e que possam começar a ser executados imediatamente. Os três maiores fundos de pensão ligados a empresas estatais do País (Previ, Petros e Funcef) terão papel fundamental no financiamento das obras.
Agronegócio
O Brasil deve terminar 2003 como o maior exportador mundial de soja, superando os EUA, e de carne bovina, ultrapassando a Austrália.
O PIB do agronegócio brasileiro teve crescimento real de 5,3%, de janeiro a maio deste ano, contra 2,1%, em igual período de 2002, segundo dados apurados pela Confederação Nacional da Agricultura. A previsão
é de que o PIB do setor deverá encerrar 2003 em R$ 446,70 bilhões em comparação com os R$ 424,32 bilhões registrados no ano passado. O agronegócio respondeu por 41,5% da balança comercial brasileira entre janeiro e julho de 2003. Em igual período de 2002 o porcentual foi de 39,2%. Entre janeiro e julho, o saldo da balança comercial do setor atingiu o recorde de US$ 13,5 bilhões, 40,3% superior ao verificado
em igual período de 2002.
Telefonia
O setor de telecomunicações viveu um bom momento na semana passada, coisa que há muito não se via. A Embratel fechou a compra da Vésper, operadora de telefonia local de São Paulo. Foi o primeiro grande negócio do setor em meses. A Embratel ganha o mercado da Grande São Paulo e, de quebra, evita a demissão dos 1,1 mil funcionários da Vésper, que estava mal das pernas. Agora, o setor espera um sinal mais forte do governo para mexer nos R$ 3 bilhões que estão parados no Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust).
Exportação
O valor das exportações do aço brasileiro registrou um crescimento recorde de 70,3% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, graças principalmente às compras feitas pelo mercado asiático. Balanço feito pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) mostra que as vendas externas do setor nos primeiros seis meses deste ano subiram para US$ 1,7 bilhão, contra US$ 1,019 bilhão no mesmo período de 2002. O volume de exportações subiu para 5.958.296 toneladas, contra 4.541.701, o que representa um aumento de 31,2% em relação ao mesmo período de 2002. O relatório também indica que a produção de aço no período analisado cresceu 8,4%, atingindo 15.326.000 toneladas, em comparação com as 14.137.000 produzidas no primeiro semestre de 2002. Em junho passado, a produção totalizou 2.590.000 toneladas, um aumento de 7% em relação ao volume do mesmo mês de 2002. A expectativa do setor é de que o governo tome providências para estimular setores como infra-estrutura e construção.
Sindicalismo
Os 9,3 mil metalúrgicos da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, estão celebrando uma grande vitória. Eles conseguiram trocar o velho esquema de horas extras – no caso, para atender contratos de exportação de motores e caminhões para os Estados Unidos e Alemanha – por contratações. Foram contratados 309 metalúrgicos de janeiro a junho, além de aprovada a jornada de mais seis sábados adicionais de produção. “É um grande exemplo”, diz José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Melhor ainda: com novos contratos de exportação firmados com países como Nigéria e Cuba, os trabalhadores negociaram com a empresa mais 150 contratações e a jornada em mais cinco sábados adicionais, com pagamento de hora extra a 100% no dia 20 de agosto, aniversário de São Bernardo do Campo. As linhas de montagem e de usinagem já estão trabalhando em três turnos há alguns meses. Começam cedo, às 5h45 e, trocando de turma, vão até as 6h, de segunda a sexta. “É um momento diferente e importantíssimo, são 460 contratações este ano e isso gera centenas de empregos em toda a cadeia produtiva”, disse Feijóo.
Emprego
É o que todo mundo quer. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o emprego vai começar a aparecer no final de setembro, começo de outubro, com a esperada queda de juros. A indústria de São Paulo iniciou o segundo semestre demitindo em ritmo menor do que vinha acontecendo nos últimos meses. O índice de emprego industrial da entidade teve queda de 0,08% no mês passado em relação a junho, com o fechamento de 1.213 vagas. Foi ruim, mas melhor do que os números registrados em julho dos últimos anos. Em julho de 2002 houve uma queda de 0,52% e em 2001, de 0,32%.