20/08/2003 - 10:00
Na história ambiental brasileira, os índios quase sempre foram
encarados como seres ecologicamente corretos e os colonizadores,
como vilões. Pode não ter sido bem assim. Quando Cabral desembarcou aqui, encontrou clareiras provocadas pela prática das queimadas, que teria dado origem à vegetação do cerrado. Quem sustenta essa tese polêmica é o agrônomo paulista Evaristo de Miranda, autor de Natureza, conservação e cultura (Metalivros, 180 páginas, R$ 96). Segundo Miranda, só uma pequena parcela do cerrado é nativa, o resto é
produto da ação humana.
O autor sustenta que os portugueses tinham certo zelo com a terra conquistada nos trópicos. Ele cita como exemplo a implantação dos engenhos de cana-de-açúcar, que eram precedidos por uma espécie de estudo de impacto ambiental. “Foi esse cuidado que impediu a extinção do pau-brasil no período extrativista”, diz o agrônomo.
Já o professor carioca de história ambiental José Augusto Pádua lembra que o maior problema não foi a exploração da árvore que batizou o Brasil, mas sim a prática da queimada como instrumento de preparo do solo. Embora não pinte os colonizadores como vilões, Pádua diz que o País foi explorado para o enriquecimento da metrópole. Existe pelo menos um consenso. A grande devastação ocorreu no século XX, com a exploração predatória dos recursos naturais e a construção de ferrovias e rodovias. Entre 1950 e 2000, se derrubaram mais árvores do que em todo o período das coroas portuguesa e brasileira, diz Miranda.