Um pequeno grupo de universitários, até então pouco envolvido com o movimento estudantil, conseguiu provocar um desconforto federal na última semana, durante as comemorações do centenário do Diretório Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco da USP. Na segunda-feira 11, ao atirar uma galinha preta contra a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), que discursava no palanque, Ernst Hellmuth, 18 anos, arrancou do ministro da Justiça uma pérola que já entrou para os anais de gafes do governo Lula: “Atirar galinha em mulher é como jogar veado em homem”, “besteirou” Márcio Thomaz Bastos, tentando defender a prefeita. O ministro, representante de Lula na solenidade, recebeu críticas de todos os lados e, de quebra, se envolveu num bafafá com o movimento gay. O antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, indignou-se: “Ele deveria cuidar da segurança. O Brasil é o campeão mundial de assassinato de homossexuais. E, ao associar o veado à falta de masculinidade, reforça o estereótipo de que gays são frágeis e vítimas preferenciais de machismo e intolerância.”

Ao se recuperar do susto, Marta acusou os manifestantes de serem tucanos. Eles negam, mas, verdade ou não, fato é que os alunos vinham divulgando na faculdade panfletos nada simpáticos à prefeita e a outros nomes ligados ao PT. Reunidos no Partido Feudal, que tem como símbolo uma galinha – branca e sem cabeça – e vai disputar as eleições para o diretório, eles ganharam notoriedade pelo feito. “Agora estão aglutinando a direita da faculdade”, diz Mariana Vieira, diretora do XI de Agosto, que condenou o ato. “Foi uma agressão pessoal à prefeita e às mulheres em geral”, analisa. Mais tarde, Ernst explicou a natureza do protesto: “É que a Marta é um caso que só se resolve com despacho.” Depois de arremessar a ave, o aluno foi convocado pela prefeita para falar. “Em vez de jogar galinha, vem contar por que você está bravo”, pediu. “Nós, do Partido Feudal…”, foi só o que conseguiu dizer o atirador de galinhas até ser interrompido pela mesa. Em meio a vaias, Marta partiu para defender sua gestão. “Vamos inaugurar 21 CEUs (Centros Educacionais Unificados) que vão dar para a periferia a oportunidade de ter tudo o que a classe média e provavelmente vocês tiveram acesso.”

O pai de Ernst, Harold Hellmuth, além de, claro, defender o filho,
diz que o gesto terminou por “mostrar o nível do ministro”: “Ele deu
uma gafe auto-reveladora dele mesmo.” Para ele, a “brincadeira” foi levada a sério demais. “Todo mundo coloca maldade em tudo”, reclama. Oficial da reserva da Marinha, Hellmuth sempre vota contra o PT, diz
que os políticos são mal-humorados e o episódio foi apenas uma pilhéria. O tititi tragicômico da galinha, levado na esportiva ou não, pode ter
sido apenas mais um protesto contra Marta, que já aprendeu a tirar
de letra manifestações contra sua administração. Mas fica o recado
para os ministros de Lula: em boca fechada não entra mosquito,
nem galinha, nem veado.