Há cinco anos, ele ganhou e não levou. Candidato a reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1998, o economista carioca Aloísio Teixeira recebeu 41% dos votos da comunidade, mas o então presidente Fernando Henrique Cardoso comprou uma briga e nomeou o sociólogo José Henrique Vilhena. Com a saída de Carlos Lessa para a presidência do BNDES este ano, a UFRJ foi à forra e despejou 64% dos votos em Aloísio. Aos 58 anos, ele finalmente chega à reitoria com cacife para criticar o governo, sem correr o risco de perder o posto. Engrossa os ataques da esquerda à política econômica, mas poupa o ministro da Educação, Cristovam Buarque: “Ele é o que melhor poderia acontecer para as universidades públicas.” Aloísio chega com sede de mudança
e deflagra guerra contra o vestibular, defendendo o sistema de avaliação permanente no ensino médio. Filiado ao PSB, mas sem militância, o ex-integrante do PCB quer ser um reitor diferente, pelas opiniões firmes na análise da política nacional e pela cobrança da autonomia universitária. Planeja conciliar a reitoria com as aulas. “Ensinar é um contínuo processo de aprendizado e eu não quero parar de aprender.” Em entrevista a ISTOÉ, criticou a política econômica: “Eu teria mais confiança se visse em determinados postos pessoas que pensam como eu.”

ISTOÉ – Sua eleição é a volta do ideário de esquerda à UFRJ?
Aloísio Teixeira
– Tenho uma posição pública de esquerda. Só que as questões da universidade vão além de uma definição ideológica. Mas concordo que hoje existe, sim, um viés de esquerda na UFRJ.

ISTOÉ – O sr. vê algum sinal do governo Lula de que tratará as universidades de forma diferente?
Aloísio
– Sim. Apesar de não ter sido anunciada uma política para o terceiro grau, sinalizaram com o diálogo, que estava bloqueado no governo Fernando Henrique. Cristovam Buarque já deixou claro que não vai pautar sua conduta pela legislação intervencionista.

ISTOÉ – O orçamento da UFRJ é suficiente para fechar as contas?
Aloísio
– O orçamento para custeios e capital, que há cinco anos era de R$ 50 milhões, não passa de R$ 35 milhões. É impossível funcionar satisfatoriamente. Se usarmos a autonomia, podemos capitalizar a universidade negociando, por exemplo, com os diversos imóveis valiosíssimos que temos, sem precisar vendê-los.

ISTOÉ – O sr. teme que o governo Lula priorize a área social e não tenha recursos para o ensino superior?
Aloísio
– O governo ainda não definiu com clareza uma política social. O Fome Zero é um programa emergencial. Se ele definir uma solução para esse problema, tudo terá valido à pena.

ISTOÉ – As cotas por raça democratizariam o acesso
ao ensino superior?
Aloísio
– Não. Mesmo se houvesse a cota, o vestibular continuaria sendo uma barreira de natureza econômica intransponível. Essa perversidade vem com a degradação do ensino público. Há 40 anos, a universidade já era de elite, mas ainda assim um ou outro conseguia furar a barreira. Existia espaço para mecanismos de mobilidade social.

ISTOÉ – O sr. assume num momento em que os servidores
estão na berlinda por causa da reforma previdenciária. O
que o sr. pensa disso?
Aloísio
– Está faltando discutir o modelo de Estado que queremos.
Em 1988, quando elaboramos a Constituição, nosso Estado havia sido privatizado pela ditadura e era preciso torná-lo novamente público.
Nos anos 90, o governo pregava outra idéia, a do Estado mínimo.
A reforma da Previdência de hoje tem a ver com a concepção de
Estado privatista dos anos 90.

ISTOÉ – O sr. está dizendo que o governo Lula deveria se assumir como neoliberal ao fazer a reforma da Previdência?
Aloísio
– Pelo menos em relação à concepção de Estado, sim. O governo precisa dizer o que acha que deve ser o Estado brasileiro. Se quer um Estado com capacidade para intervir na vida social e econômica, vai precisar de um corpo de servidores qualificados e capazes.

ISTOÉ – Ao realizar a reforma, o governo não está tentando viabilizar financeiramente o País?
Aloísio
– Um governo que pratica 6% de superávit fiscal não pode reclamar de falta de dinheiro. O problema é que está esterilizando recursos. A manutenção dessa política econômica, ao contrário do que pensam mentes ingênuas, vai criar ainda mais dificuldades. Precisamos voltar a crescer. É conversa de economista essa idéia de que nosso problema é o controle da inflação. O que pauta a ação de qualquer governo é o câmbio, não a inflação.

ISTOÉ – O sr. está pessimista com o governo Lula?
Aloísio
– Sou otimista. Ao eleger Lula, o povo criou uma situação nova. Nossos governos se legitimavam só pela eficiência econômica, e isso acabou. O que legitima Lula é a política, que abre possibilidades da participação do movimento social e das instituições civis. O povo entende que não é possível operar a mudança do Brasil da noite para o dia, mas o problema não está no tempo que vai se levar para isso ou aquilo. Está nas pessoas que ocupam determinados postos. Eu teria mais confiança se visse em alguns postos pessoas que pensam como eu.

ISTOÉ – O sr. poderia citar nomes?
Aloísio
– De jeito nenhum. Só a Maria da Conceição
Tavares faz isso (risos).

ISTOÉ – O presidente do BC, Henrique Meirelles, é um problema?
Aloísio
– Não é tanto pelo fato de o presidente do Banco Central ser empresário ou ser banqueiro. Eu poderia concordar com isso se fosse
um movimento tático em que se está acumulando forças. O problema
é a concepção de política econômica que está na cabeça de algumas pessoas. O vice-presidente, José Alencar, é um empresário e batalha
pela redução dos juros.