20/08/2003 - 10:00
Promover encontros entre pessoas que estudaram juntas e nunca mais se viram nem sempre é uma boa idéia. Pode ser ocasião propícia para que recalques, cismas, dúvidas e antipatias voltem à tona como tubarões sanguinários, estragando reputações, certezas ou, no mínimo, a própria noite. Se os envolvidos, então, são americanos da interiorana Minesotta, todos cinquentões formados na virada dos anos 1970, no auge da revolução hippie, o evento torna-se ainda mais explosivo. Tim O’Brien, considerado um dos maiores cronistas da guerra do Vietnã, apoderou-se da idéia e escreveu July, July – de volta ao começo (Best Seller, 336 págs., R$ 35), uma história de tons divertidos e trágicos, sem nenhum clichê de enredos semelhantes. Não chafurdou, por exemplo, em um pântano de álcool, casamentos fracassados e frustrações individuais. Preferiu centrar-se no fim do sonho decantado por aquela geração para traçar um painel verossímil de como o espírito americano passou incólume pela agitação provocada por Woodstock.
À exceção da bela e simpática loira assassinada ou do tranquilo pai de família que sofreu um infarto enquanto embarcava na sua primeira aventura extra- conjugal, O’Brien obriga todos os membros dessa turma de 1969 a considerar a passagem do tempo e a pesar suas atitudes sem a mínima concessão. O livro inteiro descreve a festa de encontro em detalhes espalhados pelos 22 capítulos. Com tal recurso, Tim O’Brien curiosamente elucida situações antes obscuras entremeando-as até a compreensão de cada uma delas. Sempre num ritmo tenso, que prende a atenção até a última linha.