Libertar individualmente as pessoas do pânico da morte é ensiná-las a viver melhor. Fazer isso com muitas pessoas reunidas, de graça e com todo o rigor terapêutico, é dar à comunidade um melhor patamar de saúde pública mental. Aí saem ganhando o indivíduo e a sociedade. Foi o que São Paulo ganhou no sábado 9 no Centro Cultural Vergueiro no psicodrama dirigido pelos psiquiatras Luis Altenfelder e José Roberto Wolff. Para psicodramatizar a morte, eles trouxeram de volta a personagem Iracema, a noiva desatenta da música de Adoniran Barbosa que morre atropelada ao atravessar a avenida São João. Adoniran dá uma aula rimada de aceitação, relativização e naturalidade diante da morte: “De lembrança guardo apenas as suas meias e os seus sapatos/Iracema eu perdi o seu retrato”. Já na vida real o cidadão que interpretou o noivo foi refratário à aceitação da perda – e insistia em não se separar da moça que fez o papel de Iracema. Uma outra pessoa da platéia foi projetiva na dor: “Se Iracema me amasse de verdade seria mais cuidadosa na vida e não morreria atropelada.” “No psicodrama existe a possibilidade de se reescrever uma história e vivê-la de maneira mais livre. O público e os protagonistas refletiram sobre o limite humano na dor das perdas e separações”, disse a ISTOÉ Altenfelder, professor e supervisor da Federação Brasileira de Psicodrama. Com temas diferentes esse projeto de psicodrama público e gratuito acontecerá todos os sábados no Centro Cultural Vergueiro.