13/08/2003 - 10:00
Foi um Deus-nos-acuda. A Igreja Episcopal dos Estados Unidos (nome oficial da Igreja Anglicana no país) elegeu na terça-feira 5 o reverendo Gene Robinson ao cargo de bispo da diocese do Estado de New Hampshire. Com 62 dos 107 votos do Conselho de Bispos Anglicanos reunidos em Minneapolis, sacramentou-se, pela primeira vez na história, o bispado de um homossexual assumido. Aos 56 anos, Robinson – divorciado e pai de um casal de filhos adultos – vive abertamente há 13 anos com outro
homem. Nas palavras do bispo Robert Ducan, da diocese de Pittsburg,
e líder da ala conservadora da denominação: “Que Deus tenha piedade desta Igreja.” Ainda é cedo para saber se esse apelo será ouvido. Imediatamente depois da decisão – adiada devido a acusações, infundadas, de impropriedade e assédio sexual por parte do candidato – nada menos do que 38 primados espalhados pelo mundo ameaçaram mandar para o inferno seus vínculos com o episcopado oficial americano, rachando a Igreja de 77 milhões de fiéis. Nos EUA, os anglicanos perfazem 2,3 milhões, e 25% obedecem aos dogmas conservadores
e condenam o homossexualismo. Os partidários de Robinson, porém, festejaram sua investidura, alegando que o presbiterianismo dá
mostras revigoradas de tolerância. “A minha designação representa
uma abertura maior nas portas da Igreja. Somos todos filhos de Deus, que nos ama de forma igualitária”, como declarou o novo bispo de
New Hampshire a ISTOÉ.
Mas a abertura é parcial. Na quinta-feira 7, o mesmo conselho que aprovou a nomeação de Robinson proibiu a liturgia de pares homossexuais. Pouco mais de uma semana antes, o papa João Paulo II investiu contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apelando para legisladores internacionais que não repetissem a lei aprovada no Parlamento canadense, permitindo tais uniões. Sua Santidade mal havia se calado quando o presidente americano George W. Bush se manifestou contra esse tipo de casamento e recomendou leis específicas para proibir no “papel passado” a convivência homossexual. Nem todos concordam com isso. “A atitude corajosa do Conselho de Bispos Anglicanos deste país só foi possível devido ao apoio que a comunidade de fiéis manifesta de forma inconteste à eleição de um bispo homossexual”, afirmou o reverendo Anthony Kennerly, de Nova York. Mas o bispo Frank Griswold, que presidiu o congresso em Minneapolis, disse: “O homossexualismo não foi o tema principal da decisão. Primeiro homologou-se a vontade dos fiéis de New Hampshire, que haviam eleito o bispo Robinson anteriormente.” O arcebispo de Canterbury, o maior representante dos anglicanos no mundo, afirmou temer que “a iniciativa americana não seja bem vista pela comunidade episcopal em outras nações. Já há muitas manifestações de protesto vindas da Ásia, África e Oceania. A nomeação do bispo Robinson terá muitas implicações em nossa Igreja. Mas ainda é cedo para sabermos os resultados que este ato trará”. Só Deus saberá.