Elas querem se ver bonitas. Decoram-se com badulaques capazes de realçar o que têm de belo. Dentro do possível, são mães e também filhas. Amantes sedutoras, estão sempre dispostas a uma nova paixão ainda que saibam que o grande amor, além de não ser eterno, é sempre o próximo. Elas são simplesmente mulheres. Mulheres que matam, que sequestram, que mutilam. Mas isto não importa para o jornalista Antônio Carlos Prado, editor de ISTOÉ e membro do Conselho de Saúde Mental, Álcool e Drogas de São Paulo, que narra com uma cortante docilidade a vida das detentas dos presídios de segurança máxima de São Paulo em seu livro Cela forte mulher (Editora Labortexto). São sete anos de uma viagem solitária pelos pavilhões como voluntário que o fizeram mergulhar na vida e no coração dessas literalmente femmes fatales, jovens em sua maioria e muitas de classe média alta. Ele as transformou nas mulheres dos seus olhos. O livro, de 190 páginas, é cheio de histórias que se movimentam entre a tormenta e a calmaria de um feminino quase rodriguiano que Prado classifica de raro e imantado. “A grande arma
das imantadas é a lábia, o calibre dessa arma é o poder de sedução”, define o autor, que mostra ao leitor, sem fazer alarde, que essas transgressoras são o que realmente são. Um somatório de sensações:
da total ausência de sentimento de culpa, do prazer em causar sofrimento ao acolhimento e à delicadeza.

Emprestando os ouvidos e mantendo uma relação desarmada, o autor sabe de coisas que elas não contam a ninguém. Entre muros não tem platéia, dificilmente elas se prendem à encenação, ao contrário da prisão sem grades visíveis criada pela sociedade, onde cada um exerce seu papel. Numa crítica aberta ao sistema, ele defende uma política pública de saúde mental mais efetiva e engajada com as transgressoras. O quanto elas vão melhorar ele não sabe, mas certamente será um instrumento importante capaz de protegê-las delas próprias. “Eu tenho a convicção, em se tratando de instituições totais e totalizantes, de que somente quem olha de perto ouve. E só sabe cuidar quem sabe olhar, ouvir e tocar: é assim que me relaciono com as presas, fora do moral ou do imoral, do certo ou do errado, do pecado ou da virtude. Não as julgo jamais. Não me relaciono com delitos ou patologias, me relaciono com pessoas em seu contorno psicossocial, na particularidade ou especialidade de essas pessoas serem mulheres”, escreve Prado. O livro inclui, ainda, um ensaio fotográfico de 24 páginas. A fotógrafa Carol Minêm deita os olhos, em preto-e-branco, na forma em que elas preferem ser vistas: feras e belas, mas que podem ser amansadas com afeto.

Eu gosto de mutilar, mas não sou tão ruim assim (…)
Se tentarem me enrolar, aí eu corto dedo, língua, orelha. (…) Eu ainda vou estudar odontologia. Aí poderei ser dentista e, de vez em quando, fazer um sequestro. Farei as duas coisas que mais gosto.

Bela, campeã estadual de skate, é filha de uma empresária paulista e cumpre pena de 48 anos por sequestro relâmpago

Há mulheres que dizem que entraram para o mundo do crime porque se apaixonaram por homens bandidos. Isso é mentira. Elas já se sentiam atraídas pela transgressão. (…) O crime significa viver adrenalina e mais adrenalina. Viver adrenada!
Sharon Stone é formada em administração de empresas e cumpre 28 anos por assalto a banco

Eu gosto de me superar. Envenenar a vítima sem que a quadrilha soubesse era um grande segredo. Quem é capaz de criar os seus próprios segredos se torna dono da história
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