13/08/2003 - 10:00
Enquanto ainda engatinham os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso que rastreia os US$ 30 bilhões enviados para o Exterior por intermédio do Banco do Estado do Paraná (Banestado), uma investigação semelhante – da Assembléia Legislativa do Paraná – deu passos importantes para desvendar o esquema da lavanderia. Os deputados paranaenses quebraram no início da semana o sigilo fiscal e bancário do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco e da ex-diretora de Fiscalização Teresa Grossi. Eles são acusados de adotar medidas que escancararam o duto das remessas irregulares para o Exterior. A CPI do Paraná conseguiu também acesso aos dados eletrônicos das transações efetuadas por doleiros e outros correntistas no biênio 1998/1999, na agência do Banestado de Nova York. Até agora, só eram conhecidas as transações de 1996 e 1997. Embora estejam ainda sob análise, os dados trazem revelações bombásticas.
Os documentos mostram, por exemplo, que, pelo mesmo esquema que alimentou os US$ 32 milhões das contas na Suíça de Rodrigo Silverinha e dos fiscais do Rio de Janeiro, foram enviados de 1997 a 1999 quase US$ 1 bilhão para o Exterior. A PF acredita que a dinheirama tem origem na corrupção ou no caixa 2 de empresários, funcionários públicos e figurões cariocas. Comandado pelo doleiro Dario Messer e pelos empresários Leandro Martins e Reinaldo Pitta, o esquema utilizava principalmente a conta 030.100.089 aberta em nome da Depolo Corporation no MTB Bank de Nova York. A mesma conta aparece nas agendas de compromisso de Pitta e Martins apreendidas pela PF. Nas anotações de Pitta e Martins – empresários do craque Ronaldo, da Inter de Milão –, Messer aparece como o responsável pela conta no MTB.
De acordo com os novos dados, aos quais ISTOÉ teve acesso, a PF identificou que, por uma rede de laranjas, os recursos eram enviados inicialmente para contas abertas no Banestado de Nova York por doleiros e por bancos brasileiros. De lá, seguiam para a Depolo Corporation, uma conta que transportava o dinheiro sujo para a Suíça e outros paraísos fiscais. A papelada comprova que o Discount Bank, banco suíço no qual Silverinha e os outros fiscais abriram contas, deixou rastros. No Brasil, o banco é representado pela Coplac, empresa de fachada do Rio que tem como acionista a offshore irlandesa Trading Investing. Nas transações,
Antônio Nanis Filho, um dos procuradores da empresa irlandesa no Brasil, aparece em 1998 como responsável por oito remessas para a conta da Depolo, que somam US$ 1,2 milhão. De acordo com a papelada, a
grana saía das contas 111-3 e 116-2, abertas pelo Banco Rural no Banestado de Nova York.
A base eletrônica de 1998 começa a desvendar como o dinheiro voltava para o País. No dia 24 de abril de 1998, por exemplo, US$ 496 mil migraram da conta da Depolo para o Banestado de Nova York. Pela internet, o dinheiro caiu em segundos numa agência do Banestado no Rio. O beneficiário da conta, Juscélio Nunes Vidal, ainda não foi localizado pela PF. A Depolo servia como uma conta de mão dupla: tanto levava quanto trazia dinheiro sujo para o País.
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