13/08/2003 - 10:00
Enquanto a jogatina eletrônica cresce no resto do País, o Paraná decidiu apreender o arsenal de máquinas caça-níqueis espalhadas por bingos e pelo comércio. O promotor Luiz Fernando Delazari, secretário de Segurança Pública há 40 dias, mandou fechar os 36 bingos do Estado e recolheu 1,4 mil máquinas caça-níqueis. “Esses estabelecimentos fraudam seus orçamentos para esconder seu verdadeiro negócio: a lavagem de dinheiro a serviço do crime organizado”, aponta Delazari, com sinal verde do governador Roberto Requião (PMDB). O Ministério Público diz que o Paraná se tornou um dos maiores centros de lavagem de dinheiro do País por meio dos bingos. Para Requião, a conivência com o jogo é resultado da corrupção pública. “Não vou dedurar governadores, mas se o bingo está funcionando é porque deixam. Essa luta só não se estenderá a Estados onde o governo e a polícia dão cobertura”, afirma Requião.
Segundo Delazari, há uma conexão das máfias italiana e espanhola com os bingos. Muitas máquinas apreendidas vieram da Espanha. Um organograma feito pela Divisão Investigativa Antimáfia do governo italiano comprovou que mafiosos estão por trás das “maquininhas” importadas pelo Brasil. O promotor de Justiça Mauro Zaque, do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado, investiga ligações de João Arcanjo Ribeiro, chefe do crime organizado em Mato Grosso, com o jogo no Paraná. Antes de ser preso, Arcanjo comandava o bicho no Estado, por meio da Rede Colibri, e dois cassinos clandestinos em Cuiabá e Rondonópolis. No Rio de Janeiro, a maior parte dos caça-níqueis é controlada por bicheiros.
O Paraná é o único Estado a conseguir a proibição do jogo. Os bingos foram autorizados a funcionar em 1993, com a Lei Zico. Em 1998, a Lei Pelé regulamentou seu funcionamento, desde que parte do faturamento fosse repassada a entidades esportivas. Em dezembro de 2002, irregularidades na administração dos bingos levaram o governo a proibir a atividade, mas liminares na Justiça garantiram o funcionamento. Dois decretos assinados no dia 9 de abril por Requião revogaram as resoluções que permitiam o negócio. “O bingo é uma atividade sobretaxada, é impossível lavar dinheiro”, aposta Olavo Sales da Silveira, presidente da Associação Brasileira de Bingos. No resto do País, o negócio prospera: existem 1.100 casas em todo o País. O argumento dos “bingueiros” é de que a indústria gera empregos e ajuda, por tabela, programas sociais. No Rio, os 39 bingos autorizados pela Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj) repassam mensalmente R$ 3 milhões para o Estado. Segundo a Loterj, 70% desse valor é destinado a obras sociais. O Paraná abriu mão desse ganho extra – R$ 1 milhão – em nome da moralidade pública.