O que tanto busca o olhar inquieto e sensível do fotógrafo carioca Paulo Leite? Não exatamente o chamado grande acontecimento – a não ser que este afiado repórter fotográfico esteja em missão jornalística. Mas até mesmo nessas ocasiões o que parece fasciná-lo é a garimpagem de um ouro que está à vista de todos, mas que só os artistas sabem recolher. Aquilo que se vê num relance e, se não se vê, está perdido para sempre. Um fusca que se faz de luxuoso cabriolé, por exemplo, e dobra a esquina, levando a família enfarpelada para o casório suburbano. Um naco de paisagem flagrado na vertigem da viagem de trem, um viaduto paulistano a horas mortas, uma rua sob a chuva de Buenos Aires. Ou a cozinha nordestina que o Padim Ciço, na moldura, abençoa. A patuléia a se esbaldar num baile na Paulicéia. Um buquê de algodão-doce à espera de ser despetalado pela voracidade dos romeiros em Juazeiro. O chapéu que, na vitrine, não conseguiu seduzir a cabeça que passa, desatenta. O boneco que faz pose, fingindo não ver a câmera. O silêncio que salta, ruidoso, do estojo vazio de um violão. Miudezas, sim – preciosas miudezas que Paulo Leite desvenda para a festa da nossa sensibilidade.