13/08/2003 - 10:00
Há muito que a distopia se tornou moeda corrente entre aqueles que se aventuram pelo terreno da ficção científica na literatura. 1984, de George Orwell, e Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, livros que moveram e, não raro, apavoraram gerações, acabaram se revelando ingênuos diante da enxurrada de terroristas, cyberpunks, drogas inimagináveis, orgias indescritíveis, complôs de âmbito universal, massacres e devastação. Futuro proibido (Conrad Livros, 224 págs., R$ 29) é uma coletânea organizada pelos escritores e teóricos dessa “nova” tendência – Rudy Rucker, Robert Anton Wilson e Peter Lamborn Wilson –, publicada na virada dos anos 1990 na badalada revista americana Semiotext(e). Na verdade, o que tais contos bizarros
e violentos guardam em comum é o fato de terem sido recusados
por alguma publicação. Entre os nomes incluídos há celebridades,
como o papa da geração beat William Burroughs e J.G. Ballard, catapultado para o sucesso depois que Império do sol foi levado
às telas por Steven Spielberg.
Os três organizadores cuidam para fornecer uma aura de sacrilégio
a tudo o que é apresentado. Mas no fundo, Vemos as coisas de modo diferente, de Bruce Sterling, tem um viés rock; O pênis Frankenstein,
de Ernest Hogan, parece trecho de alguma versão pornô de Bonnie & Clyde; Relatório sobre uma estação espacial não identificada, de Ballard, cheira a Borges. Apesar da constante ameaça de uma orgia virtual libertária, a geração internet ainda escreve com ponto, vírgula, aspas
e apresenta como novidade transgressora colagens espalhadas por
todo o livro. Descontada a autolouvação a que se dedicam os groucho marxistas, conspiracionistas, satanistas, amantes de James Joyce,
Paul Virilio e Jean Baudrillard, as histórias até que são curiosas.
Chata é a bula explicativa de cada autor.