14/02/2007 - 10:00
Poder e ambição (Da esq. para a dir.) Wagner Moura,
Suzana Vieira, Alessandra Negrini, Tony Ramos,
Camila Pitanga e Fábio Assunção encabeçam o elenco da trama
Sai Leblon, entra Copacabana. Ambos bairros da zona sul do Rio de Janeiro, o primeiro é cenário da atual novela das oito da Globo, Páginas da vida, o segundo vai ambientar a sucessora no horário, Paraíso tropical, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, que estréia no dia 5 de março. Mas muito pouco eles têm em comum. Dono de um metro quadrado absurdamente caro, o Leblon é endereço de gente fina e pouco adepta de arruaças. Copacabana é decadente, tem águas fétidas e abriga a nata da malandragem carioca. De manhã bem cedo, os pescadores jogam tarrafas no mar. De noite, os cafetões fazem uma pescaria diferente: prostitutas, travestis e meninas são iscas que movimentam um próspero mercado de turismo sexual. Mas a belíssima praia de Copacabana é também o mais famoso cartão-postal do Brasil. Essas idiossincrasias transformam o bairro em um microcosmo do País na novela que levará a questionar: vivemos mesmo num paraíso dos trópicos?
A sensual Camila Pitanga, que interpreta uma prostituta ambiciosa na trama, espreita a dúvida: “Temos motivos de sobra para achar, muitas vezes, nosso país um paraíso e um inferno. Convivemos com essa contradição.” A novela não pretende formar um seminário para debater o tema, mas provocar a pensata, sim. “É o Brasil que a gente quer versus o Brasil que a gente tem”, resume Linhares. A novela foca, também, a cobiça. “Desde o início, a história do Brasil é a história da cobiça no paraíso. De um lado, a praia; do outro, o calçadão, com camelôs, cafetinagem, especulação imobiliária, etc.” Embora seja um lugar lindo – tanto faz se estamos nos referindo a Copacabana ou ao Brasil –, a rapinagem corre solta, “com personagens desprovidos de ética, que exploram o empregado num clima de capitalismo selvagem, em que o ser humano é desrespeitado”, como define Linhares, falando de sua novela. Ou será de seu país?
BEM E MAL Para Linhares (abaixo, à dir.),
parceiro de Braga, novela vai mostrar a “cobiça no paraíso”
A trama básica da novela, que iria se chamar apenas Copacabana, é típica de folhetins. Um empresário muito rico, Antenor Cavalcanti (Tony Ramos), é filho de um ex-presidiário trambiqueiro e carrega o DNA paterno. É o vilão da trama, frio e cínico, mas, como disse o ator que o interpreta, carrega certa ambigüidade. Perdeu o filho único num acidente de carro, detalhe trágico que pode ser sua redenção quando encontrar Lúcia, boa moça na pele de Glória Pires – com quem Ramos acumula parcerias de sucesso, como na novela Belíssima e no filme Se eu fosse você. Fábio Assunção entra como o contraponto: é Daniel, o mocinho bonito e honesto que se apaixona por Paula (Alessandra Negrini) e planeja viver tranqüilamente ao lado da amada numa praia do Nordeste. Claro, a vida é uma caixinha de surpresas: Paula é gêmea, sem saber, de Taís, que tem caráter oposto. Alpinista social, Taís vai se aliar a Olavo (Wagner Moura) para fazer maldades contra o casal. Olavo é sobrinho de Cavalcanti e não suporta Daniel, competente funcionário do tio e cotado para substituí-lo na direção da empresa.
A luta entre o bem e o mal segue com um elenco que inclui Yoná Magalhães, Marcello Antony, Reginaldo Farias, Vera Holtz, Hugo Carvana, Maria Fernanda Cândido, além de participações especiais de Suzana Vieira, Marcos Palmeira e Carmem Verônica. Há uma piada que diz que o Brasil é contraditório porque traficante vira viciado em drogas e cafetão se apaixona por prostituta. Isso acontece em Paraíso tropical. Chico Diaz, por exemplo, é o cafetão Jáder, que se enamora de Bebel (Camila Pitanga), que faz trottoir para ele na avenida Atlântica, principal via de Copacabana. As mazelas, entretanto, não serão mostradas para instigar raiva no telespectador. “Procuramos, na medida do possível, reforçar a auto-estima do brasileiro, em geral, e do carioca, em particular. Mostramos pontos positivos e negativos. Tentamos, porém, não dar ênfase às mazelas, e sim valorizar os aspectos construtivos, sem fantasia escapista, mas também sem baixo-astral ou derrotismo”, esclarece Linhares.
O autor lembra que “novela não precisa passar mensagem”, mas diz que, “apesar de todas as dificuldades que vivemos, vale a pena ser brasileiro, morar no Brasil e lutar por uma vida melhor aqui”. A cobiça e a corrupção, segundo ele, vão servir para ressaltar a ética e a honestidade. A campanha publicitária da novela mostra a opinião que estrangeiros têm, em várias partes do mundo, sobre nosso país. Parisienses, londrinos e nova-iorquinos rasgam elogios. “Brasil? Você tem de ser louco para não querer ir lá… As mais belas praias, florestas lindas… Um verdadeiro paraíso!”, diz um entrevistado. “Quem não seria feliz nesse clima? Bossa nova, praia, sol, mulheres…”, recita outro. “Os brasileiros são tão simpáticos… É como um caldeirão cultural”, filosofa o terceiro. Para eles, a imagem que fica é mesmo a paradisíaca. As curvas das calçadas de Copacabana são citadas em meio a suspiros. Não conhecem o texto Ai de ti, Copacabana!, de Rubem Braga, que vocifera: “A água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.” O escritor falava, na década de 50, do bairro no auge de sua vaidade. Imaginem se fosse escrever sobre os dias atuais… Mas a música que vai abrir a novela é bem mais amena, Sábado em Copacabana, de Dorival Caymmi, cantada por Maria Bethânia. Nela está dito que “depois de trabalhar toda a semana” um bom programa para a noite é – adivinhe? – Copacabana.