O provérbio chinês “Você não pode evitar que os pássaros da tristeza voem sobre sua cabeça, mas pode evitar que eles construam ninhos em seus cabelos” aponta o rumo para sobreviver à dor da perda, imensurável quando se trata de uma tragédia em dois atos, como a vivida pelo presidente do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, e sua mulher, Iolanda. Pela segunda vez, no pequeno espaço de um ano e seis meses, o casal se viu obrigado a despedir-se de mais um filho, desta vez, Júlio, 16 anos. O primeiro raio que desabou sobre a cabeça dos Frateschi foi em fevereiro de 2002, quando Iolanda, que dirigia uma Citroën Berlingo, sofreu um grave acidente na rodovia Carvalho Pinto, a 76 quilômetro de São Paulo, que matou o pequeno Pedro, sete anos. Ela voltava do Carnaval em Paraty (RJ), cidade onde Paulo Frateschi tem uma casa, em companhia dos filhos Pedro, Luiza, 18 anos, Beatriz 6, e de uma amiga de Luiza, Laila. Pedro morreu na hora e a caçula Beatriz, hoje restabelecida e sem sequelas, ficou em coma por causa de um traumatismo craniano. As outras três só tiveram escoriações leves. Paulo Frateschi, que seguia em outro carro com mais quatro membros da família, assistiu ao desastre.

Julho de 2003, envolvendo a mesma cidade de Paraty, o segundo ato
da mesma tragédia. O adolescente Júlio, que dirigia uma Paraty do pai, perdeu o controle do carro ao passar numa lombada e capotou na altura do km 572 da Rio–Santos, na madrugada do dia 23. Vítima de uma fratura na base do crânio, passou seis dias internado na UTI do Hospital dos Servidores de São Paulo e morreu na terça-feira 29. Júlio passava férias com a mãe, a irmã Luiza, sobrevivente dos dois acidentes, e dois primos, Caio Felício de Oliveira, 18 anos, e Juliana Felício de Oliveira, 24, no litoral sul fluminense. Luiza, Caio e Juliana, que estavam no carro, sofreram escoriações. O filho do dirigente petista foi sepultado no Cemitério do Jaraguá, por onde passaram o presidente Lula, os ministros José Dirceu, Antônio Palocci, a prefeita Marta Suplicy e o presidente nacional do PT, José Genoino. O clima era de perplexidade.

A amigos íntimos, Paulo se mostrou inconformado e até revoltado com
o lado tenebroso do destino reservado à sua família. Ele contou que o casal estava começando a se curar do primeiro luto, reconstruir a vida familiar e a retomar as idas a Paraty, inclusive fazendo algumas obras
s na casa que Paulo possui de longa data. Iolanda passou por sessões de terapia e começava a voltar à vida, apesar da saudade de Pedro, o filho que havia partido precocemente.

A psicóloga paulista Miriam Junqueira, que adota as técnicas de constelações familiares, desenvolvidas pelo alemão Bert Hellinger, ressalta que neste momento de perda é importante que a família se organize para vivenciar este luto complexo. Seguindo as chaves dos métodos de Hellinger – que são as identificações e implicações trágicas entre os membros de uma família, leis que ele define como Ordem do Amor –, Miriam aconselha: “É preciso que todos os envolvidos olhem para os seus mortos e reconheçam a importância deles, os reverenciem, os honrem. Digam que sentem muito por eles terem ido antes dos pais, rompendo a ordem natural das coisas e peçam a estes filhos que olhem com bons olhos o fato de eles estarem vivos. Esta seria uma forma para a família organizar internamente o luto.”

Coordenadora do laboratório de luto da PUC-SP, a psicóloga Maria
Helena Pereira Franco adverte que o envolvimento da mãe, direta
e indiretamente nos dois acidentes, e de uma das filhas, na condição
de sobrevivente e testemunha das mortes, são elementos que se somam para tornar o luto muito complicado para os Frateschi. Segundo Maria Helena, a base para se trabalhar esta dor em dose duplicada está
em encontrar um significado para tudo que aconteceu. “Uma perda transforma o indivíduo. Ele nunca mais será o mesmo, mas isso não
quer dizer que você está impossibilitado de ser uma pessoal legal,
ter uma vida legal”, conforta Maria Helena.