05/08/2003 - 10:00
Val Waxman (Woody Allen) é um desastre ambulante. Depois de ganhar dois Oscar por filmes que dirigiu nos anos 1970, foi levado à ruína por comportamento neurótico. Num lance temerário, sua ex-mulher, Ellie (Téa Leoni), consegue que dirija uma produção de US$ 60 milhões baseada nos contos nova-iorquinos de Damon Runyon. Mas Waxman não se emenda. Exige um diretor de fotografia chinês, uma figurinista monocromática e um cenógrafo que quer reconstituir em estúdio o Harlem, o edifício Empire State, a Times Square e o Central Park. Para completar, numa crise de pura histeria, o cineasta fica cego. Com estes ingredientes, Allen faz de seu 36º filme, Dirigindo no escuro (Hollywood ending, Estados Unidos, 2002), cartaz nacional na sexta-feira 8, uma entrada radical na comédia.
Rindo do Canadá, “onde não há crimes devido à aridez”; de Hollywood, que ele reconstruiu em Long Island; da França, que endeusa o cinema americano; e de si próprio, afinal seu atual fotógrafo é o alemão Wedigo von Schultzendorff, o amarfanhado diretor, sempre usando paletós de tweed e suéteres de cor pastel, se mostra feliz em cena, como há tempos não se via. Na verdade, está quase juvenil, para desgosto dos que preferem a fase bergmaniana do cineasta. Cercado pela elegante Téa, pela exuberante Debra Messing, do seriado Will & Grace, pelo correto Treat Williams e pelo auto-referente George Hamilton, ele chega a lembrar Billy Wilder nos seus melhores momentos.