30/07/2003 - 10:00
As terapias complementares vêm conquistando cada vez mais respeito e credibilidade junto à comunidade médica. Técnicas como a acupuntura e a meditação estão ganhando espaço nos hospitais brasileiros para ajudar no tratamento de várias doenças. Uma das instituições que irão adotar uma dessas terapias é o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A previsão é de que até o final do ano sessões de acupuntura sejam oferecidas a pacientes que sofreram traumas físicos, como vítimas de acidentes. O objetivo é aliviar dores que eventualmente esses indivíduos possam sentir. “A aplicação das agulhas em pontos específicos promove a liberação da endorfina, substância que alivia a dor”, explica Cristiane de Almeida, fisiatra e coordenadora do centro.
No Hospital São Paulo, também na capital paulista, as agulhas estão aliviando vários tipos de dor daqueles que chegam ao pronto-socorro. São problemas que vão desde cólica menstrual até angina (forte dor
no peito). O sucesso do método é tão grande que, no Hospital das Clínicas de São Paulo, há quatro ambulatórios de acupuntura para dar conta da demanda. Lá, a terapia também é adotada principalmente contra a dor. “É um tratamento eficaz, sem efeitos colaterais”, diz
Wu Tu Hsing, presidente da Sociedade Médica de Acupuntura de São Paulo. Quem concorda com ele é o médico e acupunturista Gabor Tomas Fonai, de São Paulo. “A ciência já comprovou que a acupuntura funciona”, reforça o médico.
Tumores – Outra instituição que está adotando a acupuntura é o Hospital do Câncer, em São Paulo. Não se sabe como, mas a terapia reduz os efeitos colaterais da quimioterapia, como náusea e vômito. O hospital também oferece aos pacientes sessões de ioga. Baseada em exercícios de alongamento, técnicas de respiração e entoação de mantras, a filosofia é praticada por um grupo de mulheres com tumor de mama. Quem vê o público reunido numa sala iluminada com luz natural não imagina os obstáculos que elas já enfrentaram. Ao entrar no local, elas obedecem a professora: deixam os problemas do lado de fora, respiram profundamente e relaxam. Os exercícios respiratórios diminuem a ansiedade e ajudam a regular os batimentos cardíacos. O alongamento melhora a postura e a flexibilidade e alivia a dor. Os mantras treinam a concentração. “A ioga produz efeitos terapêuticos na mente e no corpo”, afirma Helena Alonso, professora do método.
A bancária aposentada Fátima Silveira, 47 anos, sabe que a afirmação da professora faz sentido. A ioga a ajudou a enfrentar as dificuldades trazidas pelo câncer de mama, detectado em 2001. Fátima precisou retirar a mama direita e, enquanto aguarda a cirurgia de reconstrução, busca alternativas para superar o baque. Uma vez por semana, ela vai ao hospital para praticar a técnica. “Antes, tomava as decisões por impulso e depois ficava irritada com as consequências. A ioga diminui a minha ansiedade
e me faz ter mais autocontrole para lidar com as situações de stress”, conta Fátima. “A técnica me fez entender que a mutilação dói mais
na mente que no corpo e por isso é preciso buscar o equilíbrio
entre os dois”, diz.
Defesas – Fátima aprendeu um ensinamento precioso. Quando a alma e o corpo estão em harmonia, é mais fácil controlar as emoções. E já se sabe que o equilíbrio emocional fortalece o sistema de defesa do corpo. Em geral, as chamadas terapias complementares, como a ioga e a meditação, auxiliam nessa tarefa. É por isso também que vários hospitais estão se abrindo para a prática dessas técnicas. O Hospital do Servidor Público Municipal,
de São Paulo, por exemplo, oferece sessões de meditação aos
doentes. “Depois que eles começaram a fazer meditação, o número
de remédios tomados diminuiu”, garante Eliana Bertini Ruas, médica
e professora de meditação.
No Rio de Janeiro, as terapias complementares invadiram os hospitais municipais da cidade. A prefeitura carioca implantou um programa que oferece técnicas como acupuntura, ioga, meditação, fitoterapia (uso de plantas medicinais no tratamento), além de reflexologia (massagem em pontos específicos da planta dos pés). “Os pacientes passam por uma consulta com o médico, recebem o tratamento convencional, mas também são encaminhados para as sessões de técnicas complementares”, explica a médica e acupunturista Maria Cristina Barros. Os servidores públicos municipais também desfrutam desse benefício no próprio ambiente de trabalho. A funcionária Marilena da Silva, 58 anos, adotou a massagem nos pés para se livrar das dores provocadas pela artrose. “O alívio da dor se irradia pelo corpo”, conta. Em São Paulo, a Secretaria Municipal de Saúde oferece aos doentes sessões de meditação, acupuntura e tai chi chuan (exercícios lentos que trabalham
a postura, a respiração e o relaxamento). “Todos devem ter acesso a terapias que melhorem a qualidade de vida”, defende Rosana Takako, responsável pelo projeto, implantado em um posto de saúde da
zona norte da capital.
No Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, por enquanto apenas os funcionários fazem sessões de shiatsu (massagem japonesa feita com
a pressão dos dedos) e reflexologia. “O objetivo é diminuir o stress do trabalho. Os funcionários se queixavam de dor no braço, nas costas e na coluna. A massagem alivia o incômodo”, diz Marcos Baptista, médico do trabalho, do Sírio. No futuro, a instituição cogita oferecer as terapias complementares aos pacientes. “Tudo o que melhora a qualidade de vida do paciente é bem-vindo”, afirma Antônio Buzaid, oncologista do hospital.
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