"Se levarmos em conta que as relações comerciais entre o Brasil e a África eram praticamente inexistentes durante o apartheid (regime de segregação racial vigente na África do Sul entre 1948 e 1990) e hoje já atingem cerca de US$ 1 bilhão ao ano, tivemos uma grande evolução. E a perspectiva é que esse índice chegue a até US$ 3 bilhões nos próximos quatro anos.” A animada declaração é do embaixador da África do Sul no Brasil, Mbulelo Rakwena, que coordena a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará ao seu país no próximo dia 8 de agosto. Além da África do Sul, na turnê de seis dias que Lula fará à África Austral a partir de 6 de agosto, estarão incluídos Moçambique, Namíbia e Angola. Até o fechamento desta edição, a passagem do presidente por São Tomé e Príncipe não tinha sido confirmada, por conta da instabilidade política naquele país.

Na África do Sul haverá um tour de force entre o empresariado brasileiro e o sul-africano. Segundo o Itamaraty, acompanharão a comitiva oficial cerca de 150 empresários brasileiros de vários setores: financeiro, autopeças, aeronaves, petróleo e gás, engenharia de construção, defesa, cosméticos, calçados, vestuário, alimentos industrializados, equipamentos médicos e materiais de construção. Para Rakwena, “o governo Lula já mostrou interesse em incrementar as relações com o continente africano, do qual a África do Sul é um país líder”. De fato, com um PIB de US$ 140 bilhões, a África do Sul detém 18% do PIB do continente negro. Comercializar com o governo sul-africano significa também ter acesso aos mercados da União Aduaneira da África Austral (UAAA), composta pela Namíbia, Botsuana, Suazilândia e Lesoto. O Brasil sabe disso e não foi à toa que, no mês passado, concluiu um acordo entre o Mercosul e a UAAA que estabeleceu preferências tarifárias fixas.

Entre as frentes que o Brasil deve abrir naquele país está a da indústria automobilística. Em Limpopo, já estão sendo fabricados motores para os ônibus da transportadora Marco Polo. “Nas relações bilaterais, existem várias áreas em que deverão ser acertados acordos de cooperação. Uma delas é a de mineração. Somos especialistas nisso e podemos transferir tecnologia ao Brasil. A outra é a de turismo. Em conversas com o governo de Minas Gerais, estamos estudando a possibilidade de investimentos na rota turística Diamantina–Parati”, afirmou o embaixador sul-africano. As grandes companhias de mineração já estão no Brasil, mas o que se deve fazer é incentivar a troca de tecnologia. Na saúde, os brasileiros e sul-africanos deverão pesquisar uma vacina para tratamento da Aids.

No mês passado, Brasil, África do Sul e Índia criaram o G-3 (Grupo dos Três), uma comissão trilateral que está tratando de assuntos em comum entre os três países. Um tratado de cooperação do G-3 também foi firmado com o Mercosul. Por sua localização estratégica, a África do Sul fará a rota entre o Brasil e a Ásia. “Países do Hemisfério Sul, como o Brasil e a África do Sul, tiveram sempre uma rota comercial colonial, do sul para o norte. A diferença é que hoje passamos a enxergar as nossas forças de maneira mais competitiva”, afirmou Rakwena.

A idéia é que os três países se fortaleçam em posições comuns não só na política, mas na economia. “Tanto a África do Sul como o Brasil sofrem com a política de subsídios agrícolas da União Européia (UE). Juntos poderemos negociar de uma maneira mais fortalecida”, afirma Rakwena. Os três países também se apóiam mutuamente para o ingresso no Conselho de Segurança da ONU e se opõem ao unilateralismo dos EUA.