Os dirigentes da Polícia Federal se queixam que o órgão vive na pindaíba. A choradeira tem fundamento, mas os minguados recursos da PF não estão sendo gastos racionalmente. Um exemplo, questionado pela própria corporação, é o helicóptero de prefixo PR-HFC, um bi-turbina que custou R$ 11 milhões aos cofres públicos. Ele foi adquirido para engrossar o combate ao crime nas fronteiras, mas está praticamente parado num hangar emprestado pela Polícia Militar no Aeroporto de Congonhas (SP).

O helicóptero está subutilizado e servindo como táxi aéreo de luxo para autoridades federais. O aparelho poderia estar voando até oito horas por dia em ações de repressão ao tráfico, mas fez apenas duas operações policiais em três meses. Na mais famosa delas, levou o traficante
Fernandinho Beira-Mar para o presídio de Presidente Bernardes. No
mais, o helicóptero ficou ocioso ou serviu às autoridades do Ministério
da Justiça, a quem a PF é subordinada. Mas para atender as autoridades em deslocamento aéreo existe o Grupo de Transporte Especial do Ministério da Aeronáutica.

Em 21 de abril, por ordem da Coordenação Geral de Aviação da PF, o aparelho serviu para aliviar o secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, do estressante trânsito paulista. O helicóptero foi requisitado para pegar o secretário no Aeroporto de Guarulhos e levá-lo ao Aeroporto de Congonhas, um percurso de 35 quilômetros dali. Quatro dias depois, as pás do helicóptero voltaram a girar, desta vez para levar o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, e o superintendente de São Paulo, Francisco Baltazar, a Bauru e Araçatuba. O aparelho também serviu para transportar, em 7 de junho, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para uma visita a sua cidade natal, Cruzeiro (SP). A assessoria de Bastos disse que o ministro foi receber uma homenagem. Os passeios custaram R$ 21 mil ao Erário, fora as diárias e hospedagens da tripulação. Relatórios policiais reiteram a necessidade de remanejar a aeronave
para pontos de repressão ao tráfico. “Nada justificou a presença da aeronave e tripulação em São Paulo. Nenhuma missão foi executada”,
diz um dos documentos.

A PF, para combater o tráfico nos 12,8 mil quilômetros de limites terrestres e 5,3 mil de fronteira marítima, tem apenas oito helicópteros.
A metade está no chão com defeito. “Nem sei o que esse helicóptero está fazendo lá”, diz o diretor da PF, Paulo Lacerda, negando que tenha despachado o aparelho para São Paulo. A determinação foi do diretor de Polícia Judiciária da PF, Zulmar Pimentel, que ignorou os estudos que recomendaram que os helicópteros deveriam estar em cinco bases de combate ao tráfico: Tabatinga (AM), Dourados (MS), Chapecó (SC), Petrolina (PE) e Belém (PA).