30/07/2003 - 10:00
Máiquel (Murilo Benício) é daqueles jovens que acreditam na fatalidade do destino traçado por Deus. Foi assim que, diante de uma existência sem perspectiva na violenta periferia carioca, certo dia a estradinha esburacada da sua vida transfigura-se numa via expressa, com os mesmos elementos velozes e transformadores. Depois de perder uma aposta, o rapaz pinta o cabelo de louro e passa a se sentir um novo homem. Na mesma noite, sai com a namorada Cledir (Cláudia Abreu), vai ao bar que frequenta e encontra o temido bandido Suel (Wagner Moura), que zomba da sua recém-loirice. Enraivecido, no dia seguinte Máiquel mata Suel. Mas, ao contrário do que poderia temer, passa a ser venerado pela comunidade e até pela polícia, agora agradecidas pela “faxina”. Só não esperava mudanças tão bruscas, que o levam à profissão de matador profissional com consequente, e visível, troca de patamar econômico. Baseado no ótimo romance O matador, de Patrícia Melo, O homem do ano mostra um ser ao sabor do destino, mas não na corrente do desespero, como no livro. Na visão do diretor José Henrique Fonseca, filho do escritor Rubem Fonseca, autor do roteiro, Máiquel também é quase amoral. E deste jeito se mostra, ao sair da fronteira da inocência para os atos criminosos cometidos sem culpa. Ao final, sobra a lição de que bandido marginal, “bandido” com fachada de gente de bem e policiais desonestos são todos iguais. Vence quem for mais esperto.