30/07/2003 - 10:00
Certas narrativas de 13 dos melhores contos de amor da literatura brasileira (Ediouro, 160 págs., R$ 24) se enquadrariam mais no formato da crônica ou da prosa poética. E mais: ao contrário do que o temerário título sugere, elas apenas tangenciam o tema. Tais ressalvas, porém, não tiram o charme da antologia, organizada pela escritora Rosa Amanda Strausz. Ela escreve que o conto surgiu no País durante o romantismo, só se efetivando como gênero no final do século XIX, dentro da objetividade do realismo. O que explica a contenção de sentimentos nos contos de Raul Pompéia, Machado de Assis ou João do Rio, presenças mais antigas da seleção estrelada, que chega até contemporâneos como Marina Colasanti e Caio Fernando Abreu, passando por Carlos Drummond de Andrade e Paulo Mendes Campos.
Nos escritores clássicos, encontram-se surpresas agradáveis. Em Raul Pompéia, por exemplo, o curioso é a modernidade de Tílburi de praça (1881), que acompanha a suspeita de traição da jovem mulher de um homem maduro. “Eu por uma porta, ela por outra, em cabra-cega. Às vezes, passamos um pelo outro. Ela a caminhar na vida, eu, na minha, espiando”, diz o narrador. Mas são os autores mais atuais que enredam
o leitor. Paulo Mendes Campos, em O amor acaba, quando escreve com lirismo desencantado, diz que a paixão pelo outro pode chegar ao fim no desenlace das mãos numa sessão de cinema, como “polvos de solidão”
se movimentando no escuro.