16/07/2003 - 10:00
O lançamento das pílulas para tratar a disfunção erétil – sildenafil (Viagra), vardenafil (Levitra) e tadalafil (Cialis) – já garantiu a uma boa parte dos 152 milhões de homens que sofrem do problema no mundo uma forma eficaz de se livrar do medo de falhar na hora H. Mas agora os especialistas em sexualidade e urologia começam a perceber de maneira mais contundente que só a prescrição do comprimido não basta para resgatar o prazer na cama. Por isso, um dos temas do 2º Consenso Internacional em Disfunções Eréteis e Sexuais, realizado recentemente em Paris, foi a necessidade de oferecer também ao paciente assistência psicológica para que ele volte a se sentir seguro na relação sexual. E os especialistas estão observando que em muitos casos é preciso incluir a parceira no tratamento. Afinal, de nada adianta devolver a capacidade de ereção ao homem se a companheira, por exemplo, não sente mais desejo. Nesses casos, mesmo com a ajuda das drogas, a infelicidade sexual do casal continuará a existir.
O consenso médico sobre essa abordagem mais ampla no tratamento da disfunção erétil é fruto, principalmente, da experiência no consultório. Médicos e psicólogos frequentemente deparam com homens inseguros de sua performance, apesar do uso de remédios. Por outro lado, há mulheres que também apresentam alguma disfunção sexual ou outros problemas que dificultam a relação. “Deve-se levar em consideração, por exemplo, que mulheres mais velhas podem ter pouca lubrificação vaginal”, explicou Marian Dunn, do Centro de Estudos da Sexualidade Humana, de Nova York (EUA), presente no encontro em Paris. Além disso, muitas mulheres vão perdendo a libido à medida que a disfunção do parceiro se agrava. “Elas se queixam de que o marido, depois que começou a ter problemas, deixou até de beijá-las carinhosamente”, contou Marian. De fato, por causa dessa dificuldade, há homens que passam a evitar as companheiras, inventando desculpas para não ir para a cama. A consequência é o afastamento não só sexual, mas afetivo. “E cria-se um muro de silêncio sobre o assunto”, completou a pesquisadora.
Situações como essas deixam claro que só a pílula não resolve o problema, embora ajude bastante. “O tratamento farmacológico é importante, mas é preciso lembrar a importância do apoio psicológico
ao casal”, afirmou o médico inglês John Dean, secretário da Sociedade Britânica de Medicina Sexual, outro participante do evento. “O sucesso depende de um programa mais amplo, do qual o remédio é uma parte”, disse. No Brasil, essa forma de lidar com a disfunção erétil ganha destaque. “Sabemos que cuidar das emoções dos parceiros é
fundamental para um bom resultado”, disse o urologista paulista
Celso Gromatzky, que esteve em Paris. A psiquiatra Carmita
Abdo, que também participou do encontro, defende a abordagem multidisciplinar (feita por profissionais de várias especialidades). “A sexualidade apresenta aspectos culturais, econômicos, religiosos e sociais. Tudo isso precisa ser considerado”, afirmou.
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