Disputando com o senador Barack Obama a indicação do Partido Democrata para a Presidência, a senadora Hillary Rodham Clinton, 59 anos, entrou na corrida depois dele, mas já o superou nas pesquisas para as primárias de New Hampshire, Estado que tem o poder de fazer ou quebrar concorrentes. Nascida em Chicago, advogada formada na Universidade de Yale e de militância política que vem desde a adolescência, a senadora é hoje uma das figuras femininas mais importantes do mundo. “A chave do sucesso de Hillary é sua fantástica capacidade de trabalho e completo domínio da arte da política, que é a dos compromissos possíveis”, diz o insuspeitado rival republicano Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara dos Representantes durante o governo Bill Clinton e inimigo mortal da família. Essa capacidade de trabalho foi demonstrada na semana passada, quando ISTOÉ acompanhou a candidata em eventos políticos em Nova York. A seguir trechos das minientrevistas concedidas a ISTOÉ.

ISTOÉ – A sra. deu seu voto de apoio à guerra ao Iraque, antes da invasão americana. Agora a sra. renega este voto. Por quê?
Hillary Clinton
– Não nego o voto. Se tivesse as informações que temos agora, jamais teria dado meu voto às pretensões do governo Bush. Sabe-se hoje que os dados de inteligência que foram passados ao Congresso estavam errados. Diante do que nos foi apresentado na época, pareceu importante apoiar as ações do presidente. Mas os fatos posteriores mostraram que o cenário era muito diferente daquele pintado pelo governo. Eu assumo a responsabilidade pelo meu voto. Agora, teremos de encontrar meios inteligentes para sair do Iraque.

ISTOÉ – Qual será sua política a respeito do Iraque? A sra. retirará as tropas americanas? Haverá um calendário fixo para a saída dos soldados?
Hillary
– Eu acredito que nossas tropas devem ser retiradas o mais rápido possível. Mas também creio que temos interesses de segurança nacional muito importantes naquele país e na região. Existem, por exemplo, núcleos fortes de insurgentes sunitas e da Al-Qaeda em regiões do país. Não podemos deixar que esses grupos formem santuários que só esperam a saída de nossas tropas para criar feudos. Devemos também oferecer medidas de segurança aos curdos, que podem sofrer ataques destes grupos e de milícias radicais xiitas. Também enfrentamos hoje perigos no Irã que antes não existiam e não temos planos definidos para contê-los. Temos que agir com cautela, sem estabelecer prazos fixos de retirada.

ISTOÉ – A sra. acha que o povo americano está preparado para entregar o cargo de comandante-em-chefe a uma mulher?
Hillary
– Claro que sim! Há anos temos vários generais, brigadeiros e outras altas patentes que são ocupadas por mulheres. O povo americano quer como presidente a pessoa que ache mais competente. Minha experiência como membro do Comitê das Forças Armadas no Congresso já demonstrou que entendo do assunto.

ISTOÉ – A sra. foi várias vezes ao Brasil. Caso seja eleita presidente, como será sua relação com esse país?
Hillary
– De fato, fui ao Brasil e fiz muitos amigos. Trata-se não apenas de um aliado importante dos EUA, mas também de um parceiro que deve ser consultado mais vezes. Quando eu era primeira-dama, já havia conhecido um pouco dos programas brasileiros para energias alternativas. Desde então, venho citando estes exemplos como coisas que poderiam ser incentivadas e abraçadas pelos americanos. Precisamos formular uma política de aliança e troca de experiências bilaterais neste setor. Há muito mais. Vi programas nas áreas de alimentação, habitação, saúde, preservação, enfim, várias iniciativas brasileiras que devem ser apoiadas pelos EUA e até consideradas medidas de interesse nacional americano.

ISTOÉ – Dizem que sua bagagem de vida é arma que será usada com vigor nestas eleições.
Hillary
– Minha vida sofreu o maior escrutínio de que se tem notícia na história recente. Também enfrentei isso quando concorri ao Senado em Nova York. Minha estratégia, desde então, tem sido a mesma, dizer: “Esta que vocês vêem é a pessoa real, por trás das fofocas de tablóides sensacionalistas. Sou a pessoa mais famosa que você desconhece. Avalie esta pessoa e não dê ouvidos àquilo que dizem em programas de tevê, rádio ou tablóides.” Essa estratégia funcionou, como se viu depois de duas eleições para o Senado