02/07/2003 - 10:00
Rivais históricas, São Paulo e Rio de Janeiro travam agora uma acirrada disputa. Na segunda-feira 7, presidentes de confederações olímpicas e membros do Comitê Olímpico Brasileiro decidirão qual das duas cidades será candidata à sede das Olimpíadas de 2012. A capital fluminense julga estar mais preparada, pois realizará os Jogos Pan-Americanos de 2007. Já a metrópole paulista, responsável por 10% do PIB do País, contratou o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, um dos mais respeitados do mundo, para mostrar que a realização da Olimpíada vai além do bairrismo. A escolha de São Paulo aceleraria o processo de reurbanização da metrópole, com a despoluição dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, a recuperação de bairros degradados, além, é claro, do aumento do número de instalações esportivas.
O que está em jogo é a escolha da cidade com mais condições de
vencer as candidatas estrangeiras: Londres, Paris, Nova York, Havana, Madri, Istambul e Leipizig. Nos bastidores, o comentário é que, depois de Atenas 2004 e Pequim 2008, o Comitê Olímpico Internacional estaria disposto a realizar os Jogos no continente americano. A cidade que comprovar ter a melhor infra-estrutura leva. “Para um Pan, o Rio é
ótimo. Mas, para o Brasil brigar com gigantes, só apresentando como sede o seu maior centro urbano”, argumenta a secretária de esportes de São Paulo, Nádia Campeão.
Durante as Olimpíadas, a cidade-sede deve receber dez mil atletas, 27 mil profissionais de mídia e 500 mil turistas. Sydney e Atlanta gastaram cerca de US$ 15 bilhões em transporte e ginásios, estádios, centros de treinamento e hotéis. São Paulo quer investir US$ 12,5 bilhões. Dos 36 complexos esportivos previstos, a cidade possui 25. São locais como o Ginásio do Ibirapuera e o centro poliesportivo da Universidade de São Paulo, inaugurados em 1963, para os Jogos Pan-Americanos. O secretário de Planejamento do município, Jorge Wilheim, afirma que as construções existentes serão reformadas e 11 novas serão instaladas. “Calculamos gastar US$ 2,5 bilhões, o que corresponde a 1,38% do orçamento da prefeitura por ano, até 2012”, diz.
As obras de infra-estrutura, no valor de US$ 10 bilhões, serão feitas pelo governo do Estado. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) se comprometeu a acelerar a implantação do Plano Integrado de Transportes Urbanos. A malha do metrô deve passar dos atuais 57,6 km para 110 km. Haverá uma linha ligando o aeroporto de Guarulhos ao Terminal Barra Funda, outra do aeroporto de Congonhas à Estação São Judas e uma terceira unindo a Cidade Universitária, no Butantã, à futura Vila Olímpica, na Água Branca. A idéia do projeto de Mendes da Rocha é integrar as diferentes áreas da cidade. “Não criaremos edifícios isolados”, diz. “Em vez de procurar terrenos fora da região urbana, vamos incluir estádios e alojamentos em áreas centrais.”
Único arquiteto latino-americano a participar do projeto de candidatura de Paris-2008, Mendes da Rocha defende que, além de fazer grandes obras, a cidade postulante deve deixar um legado para a comunidade. Uma mostra disso é o novo Complexo da Água Branca. Antigo bairro operário, hoje ocupado por galpões subutilizados, o local vai ganhar
um estádio de 75 mil lugares, uma Vila Olímpica com capacidade para
20 mil pessoas, um ginásio e seis pavilhões, que serão usados para treinamento por atletas de 200 países. Após os Jogos, os galpões serão entregues às federações de judô, ginástica, levantamento de peso, handebol e tênis de mesa. Na zona norte, o Parque do Anhembi será interligado por passarelas à Vila de Mídia, na outra margem do rio
Tietê. Meses depois, os alojamentos virarão um condomínio residencial
e o leito do rio ganhará um cais.
A realização das Olimpíadas é a oportunidade de integrar diferentes regiões do Estado. As provas de canoagem serão em Jundiaí, a 60 km da capital, onde está sendo construída uma pista com vazão controlada. São Sebastião,
no Litoral Norte, ganhará um novo porto e abrigará as provas de vela. São Caetano do
Sul, no ABC, sediará as provas de handebol. Algumas rodadas de futebol serão em Santos, como deferência a Pelé.
A distância entre essas cidades é encarada pelo comitê carioca como um obstáculo. O secretário de Esportes do Rio, Ruy Cézar, afirma que o projeto de sua cidade é mais centralizado (as instalações serão na Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Lagoa e Campo Grande). De acordo com o dossiê de postulação, porém, as distâncias não são pequenas. Quem estiver em Copacabana e quiser ir à Vila Olímpica, na Barra, terá de percorrer 25 km. Do RioCentro, onde haverá competições de judô, até o Estádio do Maracanã, o percurso é de 23 km. E da Marina da Glória, no centro, ao Autódromo de Jacarepaguá, sede da ginástica, são 33 km.
Dossiê – A candidatura do Rio tem sabor de revanche pela perda das Olimpíadas de 2004, que foram para Atenas. O dossiê encaminhado para a comissão avaliadora do COB é praticamente igual ao daquela ocasião. Isso faz com que se encontrem erros, como a citação de que o Centro de Tiro com Arco, hoje apenas um projeto, estaria pronto desde 2002. Outro item polêmico é o que coloca as competições de futebol e de hóquei no mesmo local. Além de esses esportes terem campos de medidas diferentes, o primeiro é disputado na grama e o outro requer piso sintético. Com os treinos de natação, nado sincronizado, saltos ornamentais e pólo aquático ocorre o mesmo. Todos serão realizados em uma mesma piscina, quando seriam necessárias 15.
A campanha Rio-2012 é uma cruzada do prefeito César Maia (PFL). Ele garante que a prefeitura tem cacife para bancar “praticamente sozinha” a realização de uma Olimpíada. O secretário Ruy Cézar afirma que, contando as instalações construídas para o Pan, seria preciso investir somente US$ 3,1 bilhão em obras de infra-estrutura e US$ 1,6 bilhão em instalações esportivas. “A prefeitura tem superávits financeiros que nos permitem fazer esse aporte”, diz ele.
Mas a conta não é tão simples. O Rio já tem garantido o Pan de 2007, o que é ótimo, mas pode enfrentar problemas de adaptação para as Olimpíadas. Após o fim da competição continental, os 15 mil apartamentos da Vila Pan-Americana irão para a iniciativa privada. Para utilizá-los em 2012, só despejando os condôminos. A capacidade hoteleira da cidade também é limitada. Em sete anos, haverá 27 mil acomodações. Para suprir a demanda, 12 mil dormitórios terão de ser instalados em navios de cruzeiro. Outro empecilho é a falta de sinergia com o governo estadual. No dia 7, Rosinha Garotinho (PSB) deve comparecer para dar apoio. Mais moral que financeiro.