Poucas vezes a música popular brasileira definiu tão bem, em uma de suas letras, as personagens da própria música popular brasileira: “Nós somos os cantores do rádio, vivemos a vida a cantar, de noite embalamos teu sono, de manhã nós vamos te acordar (…).” Na segunda-feira 3, no Rio de Janeiro, morreu uma das mais legítimas cantoras, que ao longo de décadas embalou o sono e despertou brasileiros. Morreu, de infarto e aos 82 anos, a cantora de rádio Emilinha Borba. A paixão pela música vinha da infância, desde quando sua mãe, viúva, empregou-se no tradicional e romântico Cassino da Urca: Emília Savana da Silva Borba cresceu ouvindo música, até que nos anos 40 ingressou na recém-inaugurada Rádio Nacional. As duas, rádio e cantora, cresceram juntas – e na década de 50, juntamente com a cantora Marlene, reinaram, elas e a Nacional, absolutas. Mesmo quando Elizeth Cardoso e Ângela Maria despontaram no Brasil da televisão, Emilinha Borba se mantinha da audiência de rádio. Ela foi um dos maiores fenômenos musicais de auditório do Brasil e ganhou o título de Rainha do Rádio – o que aumentou a animosidade do fã-clube de Marlene. Não bastassem sucessos como Tico-tico na rumba, Se queres saber, Chiquita Bacana, ela tornou-se também a “Favorita da Marinha” ao gravar o dobrado Canção do marinheiro (Qual cisne branco que em noite de lua, vai navegando em mar azul…). Em 1968 uma doença nas cordas vocais traiu Emilinha Borba. Mas não há doença, nem o infarto que agora a matou, que consiga trair ou matar o mito.